Só dá para encontrar alguma coisa se um: ela estiver perdida ou dois: ela nunca estiver entrado em sua vida. Não é possível saber quem realmente somos se nunca tivermos nos deixado ir embora sem esperança de voltar. Ir atrás de si mesmo no escuro é um trabalho autoescravo. E eu nem sei se essa palavra existe. Mas quando a gente se encontra, a gente se aceita e a gente se ama.
Desde que minha memória afetiva-desgastante-doadora existe, eu estou com alguém, seja para, seja por, seja apenas com. Não fiquei sozinha nem quando fiquei sozinha, se isso pode ser compreensível. Nunca me abandonei por mais de um mês, mas nunca abandonei alguém por mais de dois dias (só se fosse para substituir) e isso é bizarro, e eu nem uso essa palavra. E eu não quero estar com, por ou para por um tempo indeterminado. Não por trauma ou pela necessidade de estar cem por cento comigo porque trauma que foi trauma eu já joguei no lixo (que venham os próximos!) e porque sempre que estive comigo, nunca foi menos de 99,9%. Só quero por querer, só estarei por estar.
É estranho pensar que minha mente é viciada em pessoas, é estranho, bizarro, eu não uso a bosta dessa palavra, que ela pense em você e depois em você-dois e depois em alguém aleatório que mal sei o nome e depois em qualquer personagem de seriado, mas seria ainda mais estranho se ela não fizesse isso, certo?
Eu gosto de você e tem certo você-um que gosto mais ainda. E eis a primeira hora de relatar:
Você não tem similares passados em meu mundo, então é algo que não sei gerenciar, manipular ou segurar. Eu não sei te segurar e tremo nas bases de deixar você tentar me segurar, se bem que eu acho que você acha que me segura. Às vezes, até eu acho que você está me pendurando de cabeça pra baixo segurando pelo pé. Às vezes.
Nunca me senti tão interessante e tão desinteressante dentro dos mesmos segundos quando penso em alguém.
Nunca fiquei rindo descontroladamente enquanto tomo banho por lembrar dos absurdos das conversas de alguém.
Nunca saí dizendo a todos os meus amigos (todos?) que encontrei uma pessoa que todos (todos: um é espaçadamente diferente do outro e bis, bis, bis) eles amarão porque todo mundo que conheço tem um milhão de coisas insuportáveis que ninguém suporta, você tem um milhão e meio e na minha cabeça não existe alguém que já nasceu que não consiga te suportar.
E é nessa hora que eu paro e tenho umas 87 convulsões seguidas por achar que gosto de você ?? Mas eu gosto mesmo. E eu devia? Eu devo. Mas eu quero levar isso para frente?
Eu quero levar isso para frente porque quero te levar apenas do meu lado lembrando todo dia que eu quero estar sozinha porque é tão bom respirar assim e isso me confunde e isso confunde o mundo inteiro, mas seria anormal se fosse apenas óbvio.
Alguém disse que simplesmente não sei ficar sozinha, mas vamos analisar tudo que aconteceu nesse intervalo desde que comecei a beijar as bocas alheias (sete anos): as pessoas chegam porque eu nem sei me levantar para chegar em alguém. Prepotência ou burrice? Decida. Eu nunca nem optei por ficar sozinha, eu sempre senti que era (que sou), mas sempre que decido fechar todas as portas da minha casa metabólica, alguém simplesmente arromba uma porta e eu sou retardada o suficiente para nunca expulsar ninguém.
Não posso pisar nas pessoas apenas porque meus amigos acham que devo dizer não a estranhos.
Se tem gente que converso, essas gentes são os estranhos.
Dessa vez eu estou sozinha, mas joguei todas as portas fora, então não se sinta especial, apesar de ser.
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