All on the road to nowhere

Enxergo minha alma num pedestal distante, inatingível, como estrelas, somente a visualização virtual do que um dia foi um um dia viria a ser. Não me alcanço, sempre estou longe. Também como naquele sonho da cobertura de um prédio vizinho: onde a minha outra vida acontecia independente e inconsciente da minha própria; consigo assistir, desenhar e desejar, mas nunca ser... é extremamente difícil tornar-se quem eu queria porque ando por caminhos escuros, silenciosos e doloridos e é difícil não pedir socorro, ao mesmo tempo que me custa muito abrir a boca. 

Parece que desejo repetir os atos que me levam a exaustão, tudo me impulsiona para isso, cada célula, cada canal iônico e barrar tudo isso exige uma força sobrenatural, que talvez eu não tenha; talvez eu não tenha sido inventada para ter nada sobrenatural e por isso fico presa nesse mito de mim mesma, sem poder atingir o que tanto luto, como se tivesse de alguma forma amarrado em mim mesma esse objetivo e que todos os meus passos, automaticamente, também carregam para frente esse alvo. 

Há tanto luto e desejo que não cabem em mim e nem sequer posso compartilhar com você depois que finalmente acreditei em tudo que falei por tanto tempo. Como eu poderia ser madura o suficiente para entender finalmente que não é um atributo que falta em mim, mas das partes, da soma, da impossibilidade de um cálculo coerente? Por que eu desejaria ficar embaixo de um teto de uma casa que não existe mais? Por que eu sou tão ruim comigo o tempo inteiro de diversas formas? O que existe de errado em afirmar ceticismo o tempo inteiro sendo tão crente? Fervorosamente crente, agarrada até a última esperança de tudo ser de verdade, para que no final nunca seja.

Há algumas semanas, expliquei que quando cheguei mais próximo do desejo de não viver e me bati de cara com a ausência de significados, tudo foi somado para um completo estado de aproveitar a passagem dos dias, da luz e das dores de forma não amarrada... viver porque é bom e bonito viver, apesar de tudo; mas esqueci de pronunciar em voz alta que todos os segundos, dias, semanas, meses e vidas que rasgaram minha alma nunca me devolveram as partes, muita coisa falta em mim e faltarão eternamente; nesses momentos, então, não há pedras ou troncos para se segurar em meio a tantos buracos vazios em mim mesma e tenho sido arrastada por uma correnteza de desejo de encerrar a existência. Eu não aguento mais existir.



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