Entre o retorno de saturno e o seu

Como é possível explicar de forma coerente que caminhamos com nossas próprias pernas e própria vontade até o cantinho escuro do quarto que sufoca? O que existe de tão prazeroso em repetir a corrida atrás do nosso próprio rabo diante daquilo que sabemos ser a quebra dos nossos próprios pilares? Por que parecemos jogar no time adversário de nós mesmos? Eu chego ao local que odeio, dou uma olhada em volta e tenho consciência que não deveria estar ali, respiro fundo, não preciso organizar nenhum quadro na parede, nenhum objeto na estante porque nada lá é desalinhado, nem há tempo que desalinhe, não solto a chave, sei que vou embora rápido, não solto a chave quando estou lá fora também. São caminhos fáceis de fazer na ida. Na volta, muito árduos, cheios de culpa. O que me leva sempre a esse quarto? Passo horas negociando a não-ida, às vezes, meses, às vezes, vidas e em algum momento, volto; poderia tentar explicar a sensação de controle, “estou no controle” do centro do meu mundo, onde decido o ir e vir, mas esta ida não parece decidida por mim, definitivamente. Poderia tentar explicar que é porque me sinto fracassada diante de todas as outras pessoas… mas fracassei em que? Qual era a prova? Qual era a régua? É apenas o caminho mais fácil para atingir uma satisfação… às custas de meus órgãos, minhas células… e eu sei que não vale, mas não largo a chave, não esqueço o caminho.





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