Incomodou minha vela enchendo de vento

É difícil admitir que somos ruins sem colocar no plural. Difícil pronunciar para mim que o que meu grande desejo é novamente superficial. 

Esse barco tem paredes pintadas com as cores que eu não gosto, um piso frágil que não só vai quebrar a qualquer momento e em qualquer lugar como já tem diversas falhas que provavelmente machucaram os pés de outras pessoas, aponta para horizonte nenhum, não respeita o tempo da água e finge ter um ritmo próprio, que só perturba ainda mais a si mesmo, visto que o oceano não se importa com sua existência… e ainda assim eu passeio aqui, sem calcular a exata hora de partida, vendo que minha boia de segurança já quase some de vista e ando por entre os cômodos vazios de esperança… por que alguém teria esperança aqui? 

Tudo porque ele me cabe? Ou tudo porque essa energia de pulsão de morte impulsiona tanto as minhas moléculas a viverem? Eu não tenho o que fazer aqui dentro, mas vim com o próprio fôlego e apesar de ainda saber sair, não saio e é doloroso admitir que é porque sou ruim, porque quero o barco só pra mim e nem sei se por diversão ou delírio. 

Há um desejo tão grande de apenas boiar e esquecer do universo que não cabe em mim… e é talvez por isso que eu não boie, talvez por isso que eu nunca aceite a paz.

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