Olha só essa fissuras

Como eu poderia colocar novamente dentro da garrafa o leite que foi derramado? Com as mãos, além de ser pouco o conteúdo possível de captar, muito escaparia entre os dedos. Com um pano, talvez eu pudesse mais, mas por mais limpo que ele fosse, muitas impurezas iam aparecer ali, não teríamos mais o mesmo leite, definitivamente. É possível que exista uma lista de técnicas científicas que me respondam essa questão, mas, o sujeito ativo do acidente não colocou a mão, nem mesmo um pano. Do fundo de um oceano mental que nunca mergulhei, porém, deixaram um rodo no canto. Fico sentada enquanto o leite escorre, procura qualquer destino e já no caminho se perde ainda mais. A própria substância sabe que está perdida em uma porcentagem importante. E tornar isso real, enquanto escrevo, sequestra ainda mais toda uma história de diversas páginas e me divide entre querer encontrar uma forma de viver com o resto ou de empurrar, de vez, para sei-lá-onde todo o resto com o rodo e bem nessa esquina, onde um quarteirão definitivamente acabou, tenho medo de atravessar a rua porque numa rua muito semelhante fui atropelada em mão dupla... quais as chances de ser atropelada por dois carros em destinos opostos? E quais as chances disso acontecer de novo? São muito pequenas, mas "quem acordou de um suicídio sabe muito bem como é que é".



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