Aposento sombrio

Existe um limiar delicado para entrar no castelo onde não tem porta de saída, de vez em quando sinto, andando pelas ruas, que enxergo reflexos dos vidros das janelas de lá. O que, obviamente, apavora meu peito. Mas de forma mais rara, sinto as vezes que fui raptada em conjunto com tudo que me cerca, pessoas e cenários são levados comigo pra alguma das torres altíssimas, onde mesmo com as janelas locais todas abertas, seria impossível pular pra sair e não morrer, nesses momentos de sufoco, a outra parte de mim que nunca sei se é ruim ou boa dispara a falar coisas sensatas e nítidas que eu nunca quero ouvir porque de um lado é o acordar e pisar no chão, do outro lado, esse mesmo pisar no chão, é pisar num chão de vidro. O meu peito explode por medo da torre, mas explode ainda mais pelo medo daquilo se tornar real dia após dia, onde o sono vai embora e vai arrancando lentamente coisa por coisa de mim, viva ou morta, concreta ou abstrata. Vai levando sem pedir. Meu peito explode uma vez atrás da outra, minha cabeça desiste de saber o que é não doer, não consigo olhar pra frente ou pra cima enquanto ando, apenas pros pés porque tenho vergonha do que sou, de existir, de incomodar a aura alheia, já que a minha é tão ruim (de uma vez por todas, isso ficou pra sempre em mim). E aí a torre some do cenário, assim como veio, ela vai, como num encanto. O que não desfaz o castelo, o que não desfaz toda essa parte confusa em mim, sem causa, sem hora e sem destino. Sou tão fraca que chega a ser cômico.


Comentários