Meu não querer tem um quê de pecado

Observar uma renúncia de longe, depois de muito caminhar, parece como olhar uma cratera misteriosa. 

Uma brisa agradável, forte o suficiente para, talvez, não poder ser chamada de brisa e sem violência o suficiente para não desagradar, foi o segundo plano de uma viagem até aquele dia em que, numa festa estranha com gente extremamente esquisita, você me disse o que ninguém nunca disse ou eu resolvi acreditar que nunca ouvi e, aqui, perante o céu azul claro, envolta da brisa, senti a mesma coisa daquela data tão distante, portanto a cratera não é tão sombria assim, questionei de forma arcaica e primitiva o porquê de escolhas tão ruins como se fosse possível responder ou, pior: como se fosse possível ter escolhido outra coisa. 

Sentados no chão, no escuro, em fotos de qualidade questionável com um totem que guardei por muito tempo enquanto caminhei para longe da nossa renúncia e devo ter jogado fora quando um dia achei que te odiei mesmo sabendo que até no dia que fiz a suposição de ódio não podia haver nada além de cócegas no estômago e nos lábios. É difícil, talvez indizível, que houvesse um sentimento maior, haja vista que nunca fiz algo além de olhar a porta das possibilidades, nunca sequer encostei nela... se por todos os motivos ditos realmente ou por fantasias superficiais, não sei te dizer, mas, aqui, íntegra, sinto falta do que nunca me faltou e envio boas vibrações para o que fomos e somos em outra unidade de tempo, naquela singular semana ou mês (de tanto que andei, o tempo contrai e dilata e não cabe em minha matemática). 

Foi como uma solução mágica milimetricamente calculada e embora eu saiba que eu tenha ditado e aplicado ingrediente por ingrediente, também tenho noção de que eu nada teria sido sem o caldeirão e sem sua mão para a realização.




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