Chave falsa

O apego a uma ideia fixada previamente por uma instância cuja qual não se conhece a face é um lobo em pele de cordeiro, corrói o ouvinte e arranca unha por unha de quem emite a mensagem. 

Quisera qualquer um de nós mergulhar no fundo do desconhecido e achar uma nota mínima, como, há 15 anos, pelo menos 1 real. Quisera eu dizer que não ligo, não me importo, que nunca tranco a porta, que nunca compro chaves, que daria a volta ao mundo num leito, como aquele, no inferno, quando programado o benzo que era um ato falho, não era um cachorro, queria que fosse, queria muito que fosse, mas o muito é sempre questionável e, às vezes, olhando de costas para o leito só tenho um caminho: admitir que existiu doença. 

E desvio do ponto, dirigi até aqui para dar uma volta no que não deveria, queria não precisar dar, queria, como disse, nem precisar ter portas, chegar um dia a dizer “aqui, não precisamos de chaves”, mas vale a paz para viver em meio ao fascismo? Bizarro. Julia disse que a independência é superestimada, mas andar em círculos quebra pernas, é cansativo e não quero reclamar da decisão alheia, novamente pressiono com força e com raiva a tecla de que o outro não é e não pode ser eu, mas não largo a ideia fixa, não largo a paranoia, não largo a impossibilidade de me transformar em tudo que eu queria conseguir ser, não largo o desespero que senta em minhas costas de ser menos do que mereço, não estou perto da que me salva quando me dou rasteira, quando espero uma mão para atravessar a rua sozinha, queria tanto ter um milímetro a mais e atravessar esse oceano que torna ridículo todo o palácio que tento montar da super instância programada lá atrás quando notei que o eu existia, quando olhei meus olhos pela primeira vez e descobri que estava ali, que tinha começado, que havia muito a correr para chegar no fim do que sou, pego tudo numa sacola e reduzo ao achismo de que preciso cobrar uma dívida que não existe. 

Queria quebrar a porta pra sempre.





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