Há tempo

Só depois de atravessar um infinito estaremos preparados para atravessar outros, por mais não palpável que isso se apresente. Eu dormia enquanto senti um futuro oco onde, da mesma forma de alguns filmes onde os créditos já subiram, eu suava e ouvia o silêncio ensurdecedor do vazio, da porta fechando pela última vez, da descoberta antes da anunciação e da caminhada após a anunciação para confirmar o que já se sabia, a caminhada onde não existe sombra.

Importa saber onde estou, talvez ainda mais onde estive, sobretudo nas noites que não atravessei, digo que atravessamos infinitos, mas inúmeras partes de mim não passaram por várias noites que não acabaram, a manhã nunca chegou em números que nem sei e sei que fiquei por lá de várias formas e é bom saber disso, é apenas dessa forma que consigo continuar dormindo quando o chão se abre sob a cama e sinto o cheiro de um possível futuro.

Não dá pra saber o preço de nada antes do final, pois o que vem em cardápio não é experiência real e assim seguimos, não dá pra dizer que foi apenas sorte, pois cada luz cortando o céu ouvia todas as letras do seu nome, mesmo que embaralhadas inconscientemente, mas, dizem que há tempo para ler um poema e tempo para fazer o imposto de renda, então, mesmo quando acordo e o cheiro de um futuro numa sala vazia sem móveis permaneça, olho meus dedos deslizando sob seu rosto e penso que há tempo para ler um poema sem a necessidade de compartilhar, tempo de ler apenas por ler, apenas para que de alguma forma eu fique maior com um poema e que mesmo que só eu veja esse ganho da leitura, há tempo.


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