Percepção

 A estrada do amanhecer nunca chega, mas também nunca acaba. Repetidamente alguém coloca em minha mesa relatórios detalhados de que é minha vez de analisar o caso que foi ou será meu. Engraçado detalhar, antes, a injustiça e insensibilidade mundial para, depois, se questionar se sou injusta e insensível. E não saber. Engraçado detalhar uma acomodação de uma propriedade para depois tentar entender se a minha morada está abandonada também. Num jogo de critérios legais, onde, não sei como, fui convidada a sentar dos dois lados da mesa, repetidas vezes, para, enfim, talvez descobrir que não há descobertas, não há amanhecer, mas também não há escuridão. 
Poderia dizer que é arrebatador concluir que não precisamos concluir nada, que não dá pra elencar pontualmente o que uma situação significa sem elementos internos. E elementos internos nunca são colocados à mesa. Peço perdão aos meus sentimentos e me envergonho ainda mais de ter apenas pensado. Lógico, pior seria o mais, mas da abstenção de bondade também se faz o ruim. 
Peço, portanto, novamente, perdão a tudo que fui e não prometerei ser melhor, pois não há do que.


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