Pankejeff

Olhar para cada lobo em cada galho de árvore ainda assusta porque eles olham de volta sem expressão, como se eu não significasse, ainda, nada. Eu sei (e ainda bem que sei), que existem diversos galhos que ainda não consigo enxergar e nem sequer posso imaginar o que há em cada um. Como alguém, que não sei quem, diz: "o que dói numa ave não é a queda, mas que o caçador não a note cair"; olharem sem expressão e se encantarem com a grama como se eu, com vida pulsante, nunca tivesse sido ameaça vívida, apenas qualquer minério a menos que a grama, como a vida que dá pulos para trás, infinitos mortais em torno de si mesma até se fazer não-vida, só que desconsiderando o espetáculo, como se eu tivesse sido, desde os primórdios, um mero grão de sal. 

Só depois de muito distante, frente a outra janela onde não tinha árvores, muito menos lobos, me dei conta de que consegui dar as costas à alcateia e dar as costas ultrapassa o ato de coragem, espreme uma liberdade nunca nem sequer programada, ainda me dói a experiência de encarar aqueles dentes e aqueles olhos mais afiados que os dentes, ainda me dói o estraçalhamento, mas conseguir olhar por cima do ombro vai além de palavras. 

Falando em palavras, lembro que enquanto caça, narrava histórias para uma criança na intenção da filha da vizinha dormir, enquanto enfeitava o lar para uma saudável vida se desenvolver, a intenção era que outra vida, em outro lugar, crescesse dessa aura, sei lá como. Como parar nossos círculos intermináveis? Como fazer que nossa própria existência pare de dar mortais em cima de si mesma até se transformar em um grão de sal, eu não sei, mas sei (embora não saiba até quando conseguirei aplicar esse conhecimento), que não dá para arrumar a própria casa esperando que outra casa se mantenha feliz ou triste com e por isso.

Tudo pode explodir em um segundo ou se desfazer lentamente escorrendo por um ralo escondido e quando notarmos, ter ido, mas agora não posso dizer que há esforço em arrumar ou bagunçar os cômodos, é um leve respirar com cuidado e atenção para concentração abdominal, só isso, mais nada, entendendo que como o mar talvez devesse se pensar em uma lagoa, como dizem, a troca com lobos não cola, o meu pulso estava, há muito, além.

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