tchau, sofá!

Não é inédito que não exista uma tonelada de Bernardi que me dê letras quando durmo bem, quando respiro bem, não existe a multidão de mim mesma conversando várias coisas ao mesmo tempo que me dê teclas, nem sequer canetas, não existe... mas nunca existiu. 

Sempre que apago a luz e sinto uma presença estranha ou não tão estranha, volto ao sofá e te conto, mas, hoje, no escuro, a presença estranha foi a sua ausência do sofá, não há mais você sentado lá e embora em algum dia (amanhã ou daqui a mil) eu consiga jurar que você nunca tenha sentado, hoje eu posso jurar que sim, que sentou e até já deitou (de tanto conforto), assim como eu com cada átomo estive num sofá de terapia, de paz e de imensas coisas que de tão boas, fogem as letras, as teclas e as canetas.

Hoje, no escuro, tento entender como voltei à fila dessa montanha russa e me pergunto o quanto acredito que alguém passe anos esperando a vez de embarcar, visto que não acredito em quase nada, mas aqui já é outra história que devo ter descoberto o que tanto tentei esconder, que, na verdade, o não acreditar é um completo acreditar e eu sou apenas infantil mesmo, como dizer que não acredito no que é invisível, mas rezar, ao mesmo tempo que digo, para que ele seja real, eu sempre sou assim e como cancelar o que sou? Outra história.

Enquanto o carrinho já se move, eu lembro do sofá no escuro e lembro que não tem mais volta, a não ser que eu pule, mas o que também não me permitiria voltar. Algumas coisas não tem volta e dentro dessas coisas, algumas delas não possuem a opção de não ir. 

No escuro ficou claro que é óbvio que existe a chance de você pular também, assim como a de eu te empurrar, mas, na primeira, diferente do que sei que provavelmente vou achar um dia, não está sob meu controle, nunca esteve sob meu controle fazer com que você ficasse eternamente no sofá, mesmo que fosse um dos quase nenhum locais que eu tinha pra voltar, pra sentar, pra respirar e tentar dormir bem. É dolorido sair da zona de conforto e é assustador dizer que nem o sofá existe mais porque é nele que estamos sentados nesta rodada, onde não podemos ver o cronômetro.