Yeah, they were all BLUE

Depois de quilômetros de água, é muito difícil precisar com maestria se eu realmente sentia algo e tinha medo ou se, de tanto medo, nunca senti nada ou se apenas nunca senti nada. Tudo foi tão girado nesse caldeirão de absurdos que é realmente muito difícil colocar em estante e dar nomes, mas sei que há dificuldade de vencer algumas ondas e de tirar de vez o barco dessa água indo completamente pra frente, a dificuldade de reconhecer que fui vítima de um jogo que achava que era meu, ora, em cada dia que falei que não existia nada daí pra cá, minha voz quando alta não era acreditada por mim, mas você sabia, você tinha certeza que não me dava nada e eu falava pra você dizer que não e você dizia, dizia e insistia que dava e que ia dar mais e eu, dizendo que não acreditava, acreditava, sim. 
Ora, nesse ponto fica sombrio de não acreditar que eu sentia algo, é quase escancarado que sentia, sim, mas, a gente volta: tinha sempre um lençol confortável pra eu dormir, lençol que eu nunca abandonei... e tudo se mistura. 
Hoje, sinto um vazio sobrenatural, queria muito achar aves pelo céu, algum indício de que poderei usar os pés, mas, aqui, no meio de uma cidade aleatória, esperando o tempo passar, me dou conta de que preciso encarar o que nunca encarei, então, falo de você, sinto falta da atriz que fui porque menti tanto que estava normal, que existem ecos por aí dizendo que eu tinha uma vida normal, não tinha, nunca nem pisei em terra, com você, nunca soube o que era não remar, apesar dos mil pesares que eu até hoje sinto falta (sei lá, queria paz agora!). 
De tudo isso tem a herança de que geralmente estou certa e não tenho motivos de remar contra mim... e continuo remando, rezando dia após dia para alguma ave no céu, metade de uma ave no céu.

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