Elaborar

Ora, aquilo que não queremos encarar está a um abismo imenso do que não conhecemos, ninguém pode pensar no que não sabe, ninguém pode querer o que não conhece, não à luz do simbolizado verbalmente, apenas como energia central e impulso permanente. 
O intocável continuará sendo e não há esforço para isso, todo esforço para isso é esforço para outra condição. É enganação. 
Num dado segundo, nascido eventualmente de nenhuma origem, notei que era bruta a afirmação de que ignoramos o óbvio, o que está escancarado, o que está em cima da mesa da sala e nos olha todos os dias: é o que é. E quando descobrimos o quanto tem a ver, o quanto tem a ser visto, sabemos, em alguma instância, em algum volume, que sempre soubemos. 
Ora, é lógico que tudo isso partiu de alguma condição deixada no banho maria e nessa condição eu nunca quis ir apagar o fogo e por alguma histeria externa ou conjunta, o gás nunca acabou. Claro, ando na linha dessa história sem cair, sem desequilibrar sequer, não questiono como terminou porque digo que sei: magicamente com um papel cortado milimetricamente muito bem cuidado e colado em cima, um papel da mesma cor, mas que sempre teve um embaixo.
Nunca quis me aproximar do fogão porque era só uma comida aleatória que não me servia, mesmo se eu tivesse fome e não deixa de ser, não deixa, mas era o que era, o gás me derrubava a quilômetros vezes e vezes. E mesmo que agora eu apague esse fogo ligado por anos e lave a panela, eu sei, sei com cada célula, que existem outras panelas para apagar em várias cozinhas que sei chegar, eu sei, mas não é tão fácil lembrar cada uma em um segundo eventual de big bang, então, sobretudo, paciência. 
De toda forma, foi interessante me sentir maior, foi engraçado e aliviante me sentir não num topo de um prédio enorme, mas um prédio enorme. Eu sei, não acaba aqui, visto que estou viva e desmontada em tantas panelas, de tantos fogões, de tantas cozinhas, mas uma parte hoje volta para, quem sabe, ironicamente, se perder novamente um dia, pois esse é o padrão básico: ser padrão. 
Pois bem, foi engraçado sonhar essa noite com alguém que quero ser porque nunca quero ter e, meu Deus, como é difícil escrever isso, como é difícil colocar em cheque o eterno auto cuidado sempre declarado, é assustador olhar nos meus olhos e tentar entender se há realmente tanto amor por tudo que sou, mas essa é outra tecla que nunca bato e, bem, toda batida de martelo tem força e cicatriz, olhar com cuidado para o que se sempre olhou com cuidado também faz parte do processo.

Imagem de girl, city, and new york

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