X-ray mornings and the mirror cracks again



Por tempos achei que o luto tinha fases, depois amadureci o pensamento e entendi que não necessariamente ele deveria seguir sempre a ordem que elas são descritas. Mas só hoje me contaram (e acreditei) que ele não é para ser vivido por etapas, que ele parece muito mais com uma montanha russa no escuro. Contaram a história da mulher que perdeu o filho em um dia e foi trabalhar no outro, seguindo, normalmente, a sua vida. Dez anos depois, em outro casamento e sem filhos, acordou de madrugada supondo ter um infarto pelo aperto no peito e suor frio. Era o luto pedindo para ser encarado e ela sequer sabia. 
Absolutamente existem coisas olhando dentro dos meus olhos, impedindo minha passagem (e apesar de eu nem saber para onde eu deveria passar, ainda assim sou impedida), crescendo em altura, largura e profundidade e eu não enxergo, eu não consigo bater porque não enxergo e aí eu rezo para ter humildade nos olhos. E continuo rezando... porque é o que tenho em mãos. 
Esses dias também me ofereceram um novo pensamento "sem emoções, não conseguimos escolher" e fiquei assustada porque certamente não existe a falta do emocional em mim e aí depois entendi que escolher só por supor que há a necessidade de escolher me parece absurdo e talvez este ponto clareie alguns dos gigantes que me encaram todos os dias quando eu acordo.
Ok que meu luto tenha se atrasado para vestir a roupa de luto, ok que antes eu achasse que tinha algo quando sempre tivesse lidado apenas com a perda, melhor, eu nunca lidei com o ter e, superficialmente, me avisava todos os dias, mas, de forma perversa, o superficial esclarecido queria esconder o profundo que era eu dispensar minhas virtudes.
Não foi difícil me despedir porque eu não considerava que era real. Ninguém sabe de quanto tempo qualquer coisa precisa, bom ou ruim, só sabemos quando o cronômetro para... porque antes, ele não se apresenta. 
A outra história é de uma rainha que depois que o marido morreu, vestiu preto e colocou o segundo prato na mesa até o fim da própria vida. E talvez isso não seja tão triste. Cada um lida como consegue
É difícil lidar com o vazio que você deixou, mesmo sabendo que você nunca ocupou 1/3 dele. É difícil assumir que tudo bem que eu caísse do décimo andar porque você continuaria andando pela calçada e não pararia nem para olhar. É difícil dizer em voz alta que eu estava certa o tempo inteiro e que nunca existiu doação daí pra cá. É difícil assumir tudo isso e ainda achar que eu não sou melhor sozinha (muito difícil, visto que sempre fui). É difícil sentir tudo isso tendo a certeza que não te cabe mais nesse planeta deserto e que de tanto local disponível você não está apto para nenhum entre o céu e a terra. 
É ridículo ter a certeza que eu não quero você e ainda assim sentir o tórax implodir por você fazer o mesmo.

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