Quando eu te olho nos olhos e agradeço pelas pernas é o ponto mais valioso do que existe entre o céu e a terra, levando em consideração que tudo é vontade, que o mundo é vontade. Lá atrás e lá na frente, a gente se encontra sempre que pode e sempre que podemos coincide, por causas óbvias, nos piores ciclones. É terrível assumir que conseguimos olhar para alguns medos com toda e única cara que se é possível, mas é, também, maravilhoso, é saber que ele existe ainda, que não sumiu por completo, mas que já não há o impulso de sair correndo. Estamos frente a frente para os medos e abandonamos o corpo. É sempre a via certa: a que dá pra ir inflando os pulmões. Hoje dói o assombro de que muito vai dar errado, e muito pode, eventualmente, dar mesmo errado, mas não há o que fazer além do que se tem. O tempo e a força animal que tem em nossos vasos, que não sei muito de onde vem, mas que com cada piora só melhora, nos trouxeram até aqui e daqui pra frente a gente monta sempre mais barcos e abandona cada vez mais o corpo, desiste cada vez mais do ego. Todo dia eu me pergunto o quanto ainda vale a pena não mentir, não roubar, não matar, não deixar de perdoar e não desistir da bondade manifestada através de uma energia que não é humana, mas que está ao nosso alcance, todo dia eu me pergunto o motivo de me sentir tão triste e sozinha quando opto por continuar com toda esse enfeite de vida e quase todo dia eu entendo que não é por ninguém e, sim, por tudo que aconteceu e acontece e não há recompensa maior do que poder respirar em paz e isso é a paz.
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