sengstaken-blakemore

O mar em sua infinidade é muito mais bonito que assustador e por isso vamos. Sempre vamos. Lembro do dia que não consegui mais sentir a areia sob os pés e não conseguia voltar para trás, para a praia, estava presa numa série de ondas que me desequilibravam e me puxavam cada vez mais pro fundo em uma dança que não fazia muito sentido e lutar era em vão, parecia que cada vez que eu tentava, tudo ficava mais difícil e eu sabia que, no fundo, tudo que eu precisava era procurar a calma para conseguir boiar porque a ajuda ia vir. Tinha que vir. Eu sabia, no fundo a gente sempre sabe que seremos salvos, mas no meio da dança agressiva, eu não conseguia simplesmente não tentar nadar para trás porque tudo que eu conseguia tocar era o medo de me perder para sempre em águas e ninguém nunca mais me achar, o que não fazia sentido porque a situação ruim era ali onde eu estava e não o depois. E é assim agora. Exatamente assim agora. Meu peito dói diariamente com a ansiedade do dia que você irá embora e eu continuo achando que eu deveria ir, mas não consigo nadar para trás. Todas as vezes que minha vista alcança a praia e todas as pessoas que eu deixei lá só pra vir aqui no meio do mar, você me puxa com o recuo para a sua imensidão. Seu não fim. Mas eu lembro que fui salva. Eu lembro que para qualquer situação ruim existe um final. Eu sei. No fundo, eu sei. Sobrevivi várias vezes quando achei impossivel, duvido que eu morra agora, sobretudo porque parte de mim adoraria, mas outra parte de mim não me perdoaria.