Chuvas de arroz



Apesar de saber que não tenho o controle de tudo, gosto de dar um jeito de achar que tenho, gosto de me sentir responsável pelo próximo passo que vou dar e gosto de entender porque dei o anterior. Gosto de saber que o anterior tinha que ser dado, proporcionalmente, como gosto de saber o motivo de dar o próximo, não importa se isso vai me fazer quebrar o pé, perder o pé ou começar uma queda livre. O ruim é ter a luz apagada, não ter nenhuma luz nesse céu noturno totalmente fechado. A chuva me cega e as nuvens tampam qualquer fio luminoso que poderia existir. Penso que se existisse alguma luminosidade, provavelmente, também eu não saberia pra onde ir, mas saberia que pelo menos há onde pisar e aí eu sou obrigada a cruzar os braços e esperar essa tempestade passar, não dá pra andar e qualquer movimento que eu pudesse fazer, eu já fiz. Eu rezo diariamente para entender o motivo de tudo isso estar acontecendo. Nunca me senti tão perdida antes. Isso me dói muito, talvez mais do que ser abandonada (já que a isso estou acostumada). 
Quando olho pra você, lembro que já fui embora. Lembro que já fui embora completamente e já fui embora parcialmente e você volta. Lembro que já te convidei pra meu mundo e você disse "não" e decidi lidar com o seu "não", mas no outro dia você estava no meu mundo antes de eu ter arrumado uma forma de lidar com sua recusa. Qualquer coisa que eu poderia fazer, eu já fiz. Mas sempre falta algo, você nunca vai de vez e nunca me deixa ir de vez e aí fico nesse escuro. Recorro a forças maiores, a Deus mesmo. Que Deus ilumine isso tudo da melhor forma possível e da forma mais clara possível para que a gente, enfim, cresça o suficiente para saber lidar com tudo isso sem obsessão, para que possamos cruzar uma linha e finalmente ficarmos em paz, para que eu conheça definitivamente seu mundo e suas verdades, para que você conheça a bagunça eterna que tem em minha mente, para que a gente chegue muito cansado de trabalhar diariamente e precise apenas da respiração um do outro do lado pra dormir em paz, só pra dormir em paz de verdade e recomeçar no outro dia em prol da respiração de tanta gente alheia a nós. Para que a gente acorde diariamente e consiga se gostar de uma forma assombrosa a mais que o dia anterior. Para que a gente brigue por alguma coisa que não faça o menor sentido e por várias que até façam e que passemos horas magoados, mas, no máximo, poucos dias e conclua que mesmo continuando a ter diferenças, nosso lugar é necessariamente perto um do outro, mesmo que o perto signifique passar alguns anos ainda morando em cidades diferentes e depois nunca mais. Mesmo que o perto signifique que algumas noites não voltaremos para nossa casa porque estaremos a serviço da humanidade. 
Eu espero que Deus ilumine a nossa vida definitivamente. Não espero que isso não aconteça porque não quero cancelar essa possibilidade em meu coração, não depois de todos esses anos porque essa é a única explicação que eu encontro para que você tenha voltado. Eu estou aqui. Totalmente aqui para nós. Mais do que de uma forma muito estranha sempre estive. Mais do que sempre estive. Deus abençoe isso da melhor forma possível. 
Vou ficar esperando você se situar porque chegar você já chegou.

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