Anjo

Finalmente, todos os dias que engoli as palavras para elas entrarem tanto em mim a ponto de serem só minhas e, de alguma forma mágica, se transformarem numa realidade só minha se transformaram numa realidade conjunta. Conjunta a qualquer um que tenha olhos. Bem, Deus, estou sentada no alpendre da minha mente observando um ciclone se aproximando e não consigo me levantar porque a beleza desse desastre é um presídio para meus olhos. Eu não consigo parar de olhar. Nem que eu tentasse, nem que eu tentasse muito. Tem alguém dentro da minha casa, eu sei, não posso abandonar. Olho para tudo que tem em volta a casa e não tem nada. Nada existe além da minha própria casa e, ainda assim, não sei parar de olhar para o ciclone que tem uma chance gigantesca de destruir a única coisa que existe neste deserto. E, mais uma vez, tem mais alguém lá dentro. Como posso ser presidiária a este ponto? Não sei. Mas finalmente todos os dias que forcei minha mente a criar foram criados. Tudo é confuso. Não sei o quanto eu aguento num politrauma pela própria mãe natureza. Não sei de nada. Só queria que houvesse paz. Alguma cidade. Algum lar além de mim. Qualquer coisa. Qualquer explicação além da minha. Qualquer criação que não servisse só pra mim.


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