Tudo que amei, amei sozinha

Ontem a noite, eu mentalizei com força o meu sumiço, podia não ser como morte, como em tantas vezes fora, podia ter sido como uma projeção real da inexistência, como se eu nunca, sequer, tivesse nascido, mas foi apenas como morte e aí o pneu do ônibus que eu viajava, furou, me assustei e tentei dormir, mas também não consegui e aí, é claro, tomei remédios. 
Também ontem, procurei, nas memórias que doem, o real dia que morri, talvez tenha sido em 2016, quando vomitei o estômago no vaso do banheiro, talvez em 2010, deitada no chão de pedras, talvez em 1997, quando nem sei se aconteceu ou não aconteceu o que acho que aconteceu.
Minha vida acumula toneladas de loucuras que não parecem ser passíveis de correção. Isso é tão irônico quando se leva em consideração o que quero fazer pro mundo. E eu só engulo. Apesar de chorar e morrer tudo que acho que seja suficiente de derramar lágrimas e de jogar areia por sete palmos, apesar disso, eu acumulo peso e fico andando como quem não aguenta, aliás, ontem mesmo eu quase caí 4x, quase torci o pé em uma delas, parece mentira e eu queria que fosse.
Existem coisas inexistentes que insisto até que se tornem reais e parte de mim dá risada de em quão macabra transformo a minha vida que já não é tão saudável assim. Hoje, procurei a desgraça da sua alma nas esteiras perto de mim. Você nunca está como nunca esteve, mas tem estado tão menos e isso me deixa sem ar. Encarar o resto do mundo é um completo desrespeito com tudo que fiz por mim levando em consideração as cinzas do que um dia você foi (do que um dia eu fui). 
Eu não sei lidar com nada, não consigo agir com tudo que já aprendi, é como se eu simplesmente me negasse a usar as ferramentas que acumulei perante a vida e aí eu volto e sento sozinha no escuro, na ponta de um abismo e sinto que não vai dar, nunca vai dar, eu nunca vou sentir que existe alguém realmente disponível pra mim, em qualquer sentido mesmo, não existe um amigo, não existe um relacionamento, não existe um familiar, não existe nada porque eu não sinto atravessar esses milhões de chumbo ao redor de mim e eu sequer deveria me corroer pelas pessoas, minha pele não deveria sentir nenhum grão de areia por nenhum ataque, nenhuma palavra, nada, eu não devia sentir nada ruim porque não consigo sentir nada de bom que alguém algum dia possa me oferecer. E aí, do nada, no meio de um agachamento com peso, eu rezo: Pelo amor de Deus, volte. Mas eu também não sei o porquê de fazer isso. 
Eu não me reconheço, eu não aguento esse peso, eu não aguento as pessoas, eu sinto tanto o universo inteiro que eu explodo todo dia e ninguém vê porque tem chumbo demais, parede demais, proteção demais. De tanto ser minha melhor amiga, eu também acabo sendo a pior pessoa que existe pra mim. Eu adoraria saber o que fazer. Hoje, de tanto que te encarei, consigo ver que não faz sentido também, assim como todo o resto. O que é louco e me mata devagar e morrer devagar é bem pior do que viver quando não se aguenta.


Comentários