Flutuava lépida, descansava lívida

Senti a minha visita em esquinas onde construí as imagens dos meus abandonos. Hoje, calculo o que realmente aconteceu: quem realmente abandonou quem em cada uma das vezes porque eu tenho a eterna sensação, em minhas mitocôndrias, que sempre fui deixada de alguma forma, mesmo quando era eu deixando. Ou, principalmente, nestas vezes. É questionável toda conduta certa que tento seguir com base do que me fez ser assim. O que me fez ser assim? O que estou tentando ganhar sendo boa? E eu sei que a gente não deve tentar ganhar nada com essa forma de se posicionar perante o mundo, mas o absurdo das coisas que já perdi não consegue me sustentar. Nos últimos meses, travei batalhas consideravelmente doidas, que durante o dia pareciam a rotina normal de qualquer ser humano, mas, durante a noite, se transformavam em momentos intermináveis, nos quais eu me rendi inúmeras vezes, peço até desculpas (a quem?), e a única forma viável de eu não ter perdido, foi que já estou tão fragmentada que algumas partes de mim existem, e lutam, sem que eu sequer tenha conhecimento disso. Eu sei que mudei drasticamente e adquiri ainda mais pernas para andar nos trilhos do que acho correto, o que é lindo, quando dito isoladamente, mas todas as cicatrizes dos últimos meses provavelmente não sumirão. Sinto a minha ausência aumentando na maioria das pessoas que conheço e sinto a delas em mim com total reciprocidade. O que é doido, preocupante. Continuo tentando abandonar todas as coisas antes de ser abandonada, mas quando já se abriu mão de todas as coisas possíveis, não há mais o que abandonar e aí volto ao sentimento que existe em mim desde um pouco antes da minha primeira memória gravada: que todo mundo sempre me deixa de alguma forma, mesmo que, em algumas vezes, seja comigo implorando para. Não tenho o menor controle sobre isso porque eu juro, acima da linha do mar e no mais profundo desconhecido: não tenho insanidade a ponto de realmente desejar esse tipo de coisa. E aí me resta optar por ficar sozinha, literalmente, na maior parte do tempo que posso estar, só para não correr o risco.


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