Além

Algumas vezes, conseguimos nos enxergar através de uma xícara de café com leite, enquanto esperamos que esfrie, mas que não esfrie totalmente. 
Nas últimas horas, senti uma paz, um conforto, um saber que posso dormir, um saber que posso ir além do universo em mim. O café com leite girando no copo, eu girando em mim. E não sei explicar por quê. Talvez por ego, talvez por muita prece conjugada a uma série de viagens centrais. 
A gente sempre quer ir além e eu não sei também o porquê, nem pra onde, nem, minimamente, além de quê. 
Entendi, em um colapso de um segundo, que, em alguns momentos, precisamos ir de menos, precisamos supor que perdemos alguma coisa nova, alguma coisa que nem sabíamos que podíamos saber perder, algumas coisas que, no fundo, analisando com paciência e calma, nem significam perder. 
Precisamos deixar que algumas xícaras, mesmo com café com leite, mesmo girando, mesmo tendo esfriado, mas ainda estando quente, mesmo que esteja no ponto exato, precisamos deixar que algumas xícaras caiam porque não seguramos o mundo inteiro girando o tempo todo, todos os dias. E o problema está nos momentos em que insistimos em lacerar as mãos com o peso porque após a queda, a gente respira e analisa: não era tudo isso. 
E, pra confortar, a gente reza, ao mesmo tempo que para não ter quebrado, para ter quebrado também, para que a gente não esqueça, nunca, se possível, que, às vezes, parar um pouco, ou ir um pouco de menos, é fundamental para irmos infinitamente mais além.


Comentários