Ser humano

É madrugada agora e não sei por quê (sei) não estou dormindo. Comecei a passear por vidas alheias atualmente, pra ver se o sono chega, acabei indo parar na minha, não-atualmente. Comecei a pensar se ela não se quebrou inconsertavelmente em algum ponto antigo. Muito, muito antigo. Ou qualquer ponto aí, sei lá quando. Comecei a não entender o que acho que sempre entendo. Eu deveria sentir falta das coisas que fizeram sentido para mim, provavelmente, mas a falta que preenche todos os locais cabíveis de ausência a sua. Sempre sua. Sou bem humana, juro que em demasiado, e não me sinto totalmente feliz por isso porque ser humano é bem feroz, é ter que bater no peito e admitir que sente e pensa coisas horríveis e não pode controlar tais, mas é ter controle também. Sendo humana, sinto coisas absurdas como amar com bondade e sentir tesão puramente animal. Sendo humana, oscilo nesse tipo de coisa e, às vezes, por sorte, atinjo o mesmo alvo com os dois gritos. Pois bem, neste agora de madrugada não tenho vontade de dormir sentindo seu cheiro, ou daquela blusa azul que era sua mas você dizia, de uma forma meio doida, que era minha. Agora de madrugada não tenho vontade de tomar umas cervejas com você e esquecer nossos problemas científicos no meio do nosso suor. Existem outros alvos para tais gritos. Existem pontos anteriores em minha vida que, agora de madrugada, comecei a pensar porque me deixaram reflexiva se não fazem falta se foram tão significativos. Qual é o seu significado e significante? Não sei, não posso dizer que é nenhum dos sentimentos conhecidos por mim ou por qualquer outra descrição humana que já ouvi. E tenho certeza que você é humano e, por esta certeza delicada, continuo olhando pra imensidão celeste esperando não que você volte (sim, que sim), mas que você não suma. Nos últimos dias, tem sido difícil fazer você ser eu porque muitas coisas estão, novamente, mudando em mim. Sabe? Eu não sei. Vê se não para de existir porque o mistério da existência é que me faz sobreviver e isso é você. Não é a minha vida, não é o que sinto, não é o que me impulsiona pra frente. Não é nada. E por este exato motivo é a única coisa capaz de ser tudo, tudo que não pode ser explicado, tudo que eu sou e serei, mas jamais vou entender, parar de sentir falta ou sentir completude.




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