Caso pudesse existir mais desequilíbrio nessa avenida que costumo andar, seria bem simples puxar sua existência e encostá-la numa esquina qualquer, empurrar todas as suas neuroquímicas para o centro da minha realidade de forma exacerbadamente concreta que, por isso, estaria acima do tocável. Sendo eu tão simples e limitada, estaria, sem dúvidas, no seu colo agora, sem a menor intenção de receber conforto ou forças para continuar, apenas por capricho mesmo, vontade mesmo, apenas por achar que a vida espera de mim que eu, antes de qualquer coisa, viva.
No entanto, a metade de tudo isso só seria concebida se a presença de todos os seus átomos não estivesse onde está. Um paradoxo inevitável porque se você estivesse em alguma outra parte do meu universo, como eu poderia desejar o colapso momentâneo das nossas existências? Todavia, estando onde estamos, e depois de esfolar as mãos, vivendo todos os desequilíbrios possíveis, para a construção de uma estrada equilibrada e possível de viver em paz, não consigo abrir minha porta e pedir que você deite em minha cama, aliás, não seria justo e talvez eu nem saiba enumerar corretamente o que significa justiça neste caso e, então, crio várias tabelas organizadas e explicativas para me fazer sair dessa, não porque eu seja fraca, mas por saber, por ter certeza de onde tudo isso levaria: 3600 segundos de espetáculo de uma supernova para em seguida o nada, e eu sequer consigo imaginar o que é o nada, ninguém, na verdade, óbvio.
E então aquele fogo rapidinho cruza o céu me perguntando onde está a confiança que eu deveria ter em sua luz, esse fogo apaga mais rápido do que surge porque não existe tabela mental nenhuma, em todas as minhas sinapses, que consiga me dar um motivo para confiar em você, não que eu quisesse, também. Realmente já pisei tão fixo quando em relação a sua alma que tornou-se impossível uma viagem interestelar. Você não consegue me oferecer metade de um bilhete de astronave nenhuma e, por mais que tudo que eu desejasse fosse apenas empurrar meu corpo no seu, alguns segundos não valeriam o caos.
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