Birrefringência verde-maçã

Não é completamente compreensível, ou sequer traduzível para uma linguagem humana, o furacão e a linhagem demoníaca que andam dentro dos meus neurônios. É inegável que me tornei gigante, quando posta lado a lado da eu de quatro ou cinco anos antes, esta a qual cresceu, da noite pro dia, naquele tempo. 
Inegável o acúmulo de newtons da minha alma, engraçado que toda vida que alguém fala joule, querendo falar newton, eu acho que sei o que alguém, além de mim, está pensando, como se isso tivesse alguma coisa a ver comigo, como se qualquer coisa do mundo tivesse a ver comigo, sendo que não tem. Quase nunca tem. 
Engraçado chegar a um ponto em que, verdadeiramente, não existe tempo nem chão para tremer na base porque viramos a única base existente. A dor que supura, de vez em quando, tem que ser ignorada sei lá como e por quê e, também, de forma não explicada, automatizada. Ignorar, portanto, não é não sentir, até porque sem vias para, mas é a dança do ok, dói, mas, vamos. Alguém conversa e diz que fraturou, rompeu, paralisou. TRM. Alguém morreu, pronto, alguém morreu. Faz o que por você? Faz nada porque você não é nada. Você não representa a pior parte, você não está no conjunto de todas as coisas que existem no mundo todos os dias, você não é a energia completa do universo que não pode nunca, em nenhuma instância, se retrair e sumir, que precisa estar presente e roubando a cena o tempo todo porque a cena não é sua. Ok que dói, dói mesmo, já pensou se não doesse? Uma paulada no tórax e nada. Opa, então morremos também. Não, não, tem que doer mesmo, tem que doer, atravessar e depois levantar porque você não morreu, mas o resto tá morrendo, você entende? Entende que quando disse, há anos, que ia segurar a barra pra andar sobre si mesma era pra chorar e continuar andando? Estamos aqui. Em cima da barra. A barra agora é quem nos segura. Ninguém deixou proscrito as suas lágrimas. 
A vida é engraçadíssima depois de um ponto e aí a gente vai em casa, toma banho chorando e continua sorrindo porque o mundo todo está desabando, mas você traçou a rota de quem não ia desistir dele e a barra que foi segurada, por milênios existenciais mentais, não é derrubada com pouco esforço, só cai com muito, com um que não cogitamos em nenhum ponto até este aqui. E é aqui que a gente (eu e minhas eus), neste barco, que a viagem está correta. Existiu um tempo em que ousei pensar se alguma coisa estava errada porque eu estava escrevendo menos, me romantizando menos, me acabando menos e não é (ou é? Sei lá) que eu queira me tratar com condições inapropriadas, de nenhuma forma, mas chegando tão perto do meio do meu mundo escolhido, consigo ter a plena certeza de que é isso mesmo porque parei de ter certeza, engraçado, não? Sim. Precisei traçar diversos trilhos para me salvar. É isso. É aqui. Tá quase tudo doendo, mas nada além do imaginável. Todo o acúmulo de força, crescimento, alma, energia, a construção da casa em mim, a construção de todo o abrigo, de toda a minha base mental. Agora é hora de uma leve reforma básica, nada que quebre, nada que eu já não tenha passado. Nada que eu vá ficar sem ter onde morar. Revitalizar os alvéolos para ter a plena convicção de que o norte é o caminho, sempre é o caminho. Que sou minha melhor companhia e mestre. Que não há a opção de me abandonar ou me chutar, como nunca houve. Obrigada por mim.

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