Na sexta dimensão

Não sei a data que passei a olhar a lua e acreditar que eram seus olhos furando o céu com o brilho que tinham. Ontem, antes de dormir, ela estava ali, quando cheguei na janela, você estava ali.
Hoje, fingi mais uma vez que você vai aparecer no meu futuro. Falei em voz alta que nossa história não acabou, sem entender por quê fiz isso. Às vezes, sinto que toda a humanidade desapareceu após sua ida, que oito bilhões de pessoas sumiram por não significarem o que você significava - e eu nem sei o que você significava. Fico tentando ver a gente em alguma parte do espaço ou tempo que não é mensurável, que não é real, fico tentando ver de uma forma que não tem possibilidade porque a essa altura a possibilidade é algo que não precisa mais existir porque nem a entendo.
Às vezes, queria ter desaparecido também e me transformado no que chamam de “poeira de estrelas”, se é assim que chamam, tudo pra ficar mais perto de você, que, no caso, agora é a lua. Uma coisa extremamente distante, que, provavelmente, nunca poderei tocar, mas que ainda verei em muitas e muitas noites. E dias. Você está sempre aqui mesmo que nunca tenha estado, nem mesmo quando realmente esteve. E nem posso mais dizer que não sei o que fazer com isso porque não há mais o quê.
Eu converso com seus pais em silêncio, faço você conversar comigo em voz alta e não questiono minha sanidade porque tudo isso, toda essa revolução de loucura dentro do meu apartamento e dentro do meu corpo, por onde quer que eu ande, é, sem dúvidas, o melhor remédio que achei para aguentar todo o resto que não te tem, todo o resto que me rasga e me ameaça, todo o planeta abandonado por oito bilhões de pessoas em que fiquei sozinha porque você não existe. E a cada decepção, a cada tristeza que sinto ou encosto, corro de volta pra você e torço para que minha memória seja eterna.


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