Homeostase

Sentir-me viva no mesmo mármore que me senti morta há alguns anos é uma explosão de emoções que não consigo expor nitidamente para qual lado tende mais: boa ou ruim. Sentar sob seu túmulo, que talvez seja eu mesma, e limpar a poeira que insiste em cobrir seu nome é um processo fracassado que insiste em gritar que é isso que me segura estando viva, apesar de todo o mais que ela é. Apesar de eu ter morrido e voltado. Apesar de eu encarar seus olhos a sei lá quantos quilômetros (ou, às vezes, metros?) e notar o quão morto você está e me dói admitir que você não está mais entre nós, com o nós sendo nós dois, com essa entidade estando também morta bem antes de um dia sequer ter supostamente existido. É horrível ver a poeira que se deposita por eu simplesmente me distrair com o resto do que sou e com o mundo que também existe ainda, horrível comparar as horas atuais com algumas horas antigas onde nada jamais me distrairia. Eu me sinto derrotada por me sentir verdadeiramente feliz e não, de jeito nenhum, por temer definhar alguma hora por algum outro motivo, mas por você virar átomos sem sentido, deliberadamente pelo universo e não por mim, porque nunca seria por mim. Só consigo desabar, sem sentir nenhuma dor, ao me sentir bem no mesmo mármore que um dia eu só doía. É estranho também porque me desatando do seu espírito que me atormenta, é como se eu me desamarrasse do mundo inteiro e tudo perdesse, vagarosamente, o sentido. Hoje pensei que eu deveria me cobrar menos, pensei isso pena incontável-ésima vez e dispensei em seguida por não ter alguém ou um mundo que me cobre, que me empurre. Há sufoco em tanta liberdade. Os seus olhos estão totalmente mortos e eu já não tenho muita força pra me deixar de castigo em sua lápide, mas é tudo confuso porque ela é o chão de tudo que posso pisar atualmente.




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