Crônica

É complicado entender um organismo comatoso. Causa aflição pensar que a situação atual, que é ruim, possa piorar, mas a esperança de que ela melhore é quase inexistente. Na verdade, só existe por não ter outro nome. Não vi seus olhos onde esperava ver e isso, talvez, tenha me desequilibrado ainda mais do que o desequilíbrio calculado na previsão de vê-los. Nenhum dos corpos que minha visão alcançava era seu, nenhuma sombra que entrava te pertencia. Às vezes, começo a questionar se não fiquei maluca e inventei sua presença em uma fase da minha vida.
Tenho tentado segurar minha barra da forma mais diferente de todas: não segurando. Tenho usado remédios para controlar vários problemas, logo, podemos ver que mudei bastante, já que um dos meus esportes preferidos era problematizar a indústria farmacêutica. O que é bom. Só mudando constantemente podemos saber que continuamos a ser nós mesmos, já que "quando aceitamos quem somos, mudamos".
Crescer arde muito. Tenho me intoxicado aqui e ali, me sentindo, cada vez que noto esses venenos, mais e mais e mais sozinha. E me sufoco com tanta solidão. Queria escrever para minha atual força sequencial de vida, mas tenho medo de te soltar e ficar só, e já repeti tanto essa mentira que virou verdade, sim. Hoje ouvi "ponto de donnatti" e lembrei de você e lembro que quanto mais tento me apegar ao presente, mais me enrolo, secretamente, em sua energia. Preciso de terapia e talvez eterna. Mas sinto que minha vidá está como eu queria: lotada de obrigações que não me permitam ter espaço de pensar, sentir e doer.
Há tantos universos dentro de mim que bloqueamos. Queria dizer que gostaria de dar a alguém, inclusive a quem, supostamente, merece agora. Mas não quero, não consigo. Não tenho células firmes o suficiente para afundar outra vez. Provavelmente nunca mais. E sigo dando, metodicamente, apenas a medida que posso segurar.
Apesar de que o seu tempo é imensurável, visto que você é como líquido e infiltra tudo, inunda tudo.
Sinto que todo o estresse e cansaço da minha rotina me matam, mas essa morte me salva de mortes piores, portanto, adoro. E agradeço. E penso que tudo bem quando alguém me deixa agora... Porque eu estou só. E doente. E minha doença crônica é você. São, oficialmente, 365 dias sem te ver.


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