O marido de Juliana

Você estava dizendo que parecia um bárbaro comendo asinhas de frango frito e eu olhava para você de óculos, também com as mãos sujas, e queria tirar uma foto porque seu rosto estava muito bonito. Você disse ter "descoberto" que se eu não faço textos para alguém, o alguém não passou por minha vida e que queria ler os meus sobre você. Não confirmei que tinha feito algum e, apesar de parecer bem confiante que, sim, tinha, não sei se você tem certeza. 
Algumas coisas mudaram drasticamente em minha mente desde a última queda da bolsa. Bolsa mental. Meu juízo mesmo. Desde a última vez que fiquei doida, alguma coisa se quebrou ou finalmente colou, sei lá. Tenho medo da hora que você vai dizer "não dá mais" ou não dizer nada e ir porque não dá mais ou não dar mais e você não dizer por pena e esperar que eu chegue e diga por nós dois. No final da soma, não tenho medo mais de nada porque sinto que não entro mais nessa. Sinto que há tanto medo que ficou nulo. Sinto que estou dormente. Que se você vai agora, tudo bem... porque eu nunca disse para mim que você estava aqui. 
Tenho medo de te dizer que gosto de você porque tenho medo de me ouvir dizendo. No meio dessas palavras fico pensando "será que ele vai ler isso alguma hora de algum dia?" e aí penso que "melhor não" e aí penso que "se talvez" então é melhor não escrever que não estou totalmente dentro de nós. E aí escrevi, então agora você não pode mais ler ou eu deveria deixar para ser, como sempre fui, a mais transparente das relações? 
Cansei verdadeiramente de ser eu desde a última vez que fiquei doida, mas não se assuste porque ainda consigo ser quando estou ao seu lado, exceto em alguns raros momentos onde penso que você nem do lado está, que energicamente está com qualquer outro ser humano porque qualquer um seria mais interessante que eu, aí só penso em qualquer outra coisa não-humana ou extra-humana para fugir de tanta humanidade sufocante, para me deixar para lá também. Deixo nós para lá.
Eu desejo que você seja feliz apesar do que sua fama e seus silêncios nas horas erradas (ou seriam certas? Alguns silêncios seus dizem "não entra aqui se quiser continuar viva") me passam, eu desejo que encontre utilidade e suficiência em alguém ou em algo e tanto faz se for eu ou não porque eu realmente, e infelizmente, virei um tanto faz desde a última vez que parei de ficar doida. 
A vida me parece leve sem o peso da responsabilidade de segurar a mim e a alguém. Parece mais fosca, pelo lado ruim. Sinto que antes eu era mais feliz porque era mais corajosa, mas sinto que eu era muito mais triste também. 


Comentários