Dividindo por zero

Hoje senti vontade de tirar uma nova foto com meu melhor ângulo. Ontem, quando você estava numa festa, alisei meu coração e falei baixinho "calma, mulher". Hoje, quis perguntar "sei que não é da minha conta, mas você ficou com fulana?". Antes de ontem, quis te pedir em casamento e só saiu "o que você quer?". Semana passada, dei um beijo no seu braço sem notar que o fazia. Semana passada, dormi abraçada de verdade com você, antes disso eu não sabia que isso era possível, assim como descobri, também na semana passada, que há possibilidade de outras coisas na vida acontecerem pela primeira vez - eu realmente tinha, antes, chegado ao ponto de pensar que nada mais é novo para mim. É o ritual de estar caída por alguém. Você vê que me derrubou? Consegue? 
É horrível ter que fechar a porta para tudo isso pelo medo de acontecer tudo outra vez apenas dentro da minha cabeça, uma tempestade que não molha nem a mim mesma. Só delírio, só alucinação, você lembra que te ensinei a diferença? Agora também sei que dividir algumas coisas por zero é igual ao infinito. Vai ver isso explica minha vida também. 
Ainda não fechei a porta porque a vontade de entrar e te beijar todos os próximos dias da vida é gigante e absurda, mas daqui da entrada ainda posso ficar olhando toda a beleza, sem precisar encarar nenhuma sombra de possível feiura que temos a oferecer. No entanto, sei que se eu não fechar, de alguma forma serei sugada para dentro disso tudo, entrando você também ou não. Quero pedir perdão ao mundo, antes de tudo. Em seguida, a mim mesma. E em último lugar, a você. Mas não estou pronta. Nunca nem estive, aliás. Acredito, acima de tudo, que nem existe ponto de prontidão. Curso que ensine. Vida que prepare. Nada nos deixará prontos um dia para correr o risco de se machucar, e, menos ainda, de se machucar de fato. 
Não vou tirar uma foto para você gostar mais de mim, não vou esperar que você comece a esperar por mim. E, assim, fecho a porta e jogo a chave. Sinto muito. Sinto tanto. Sinto sempre.

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