ISRS

Há 40 dias, escrevi um texto me despedindo de você porque tenho a doente fantasia de sempre querer ir embora antes de ser deixada. Isso nunca vai acontecer em um organismo que secreta moléculas que gritam querer ficar. Há quarenta dias, tentei ajeitar o solo da minha cabeça para minhas prováveis quedas derivadas de uma enorme rasteira sua. Estou aqui falando de você quando, há quarenta dias, falei que eu estava indo embora. 
Você me fez ficar da forma mais doce e mais coerente com o roteiro de príncipe do meu filme psicológico, você me ganhou a cada dia da forma que eu mais me perderia. Eu deveria estar agora listando suas melhores e infinitas qualidades, tais quais listo diariamente para mim e para o mundo, mas veja: ultimamente, e tomo como último os últimos oito dias, não sei se você ainda está tentando me ganhar ou ir embora devagar tal como eu faria na minha melhor espécie. Não sei se você prefere as meninas que chovem em você ou a que você está tentando derrubar e sei lá se você tá tentando derrubar alguém ou isso é coisa da minha doença. 
Eu ia falar sobre você, eu queria falar sobre você, mas me deu uma coisa hoje de manhã (ou tem dado há oito dias) e que nem é em questão de preferir optar por mim a você, como eu sempre dizia ser, nem questão de ter enjoado da sua cara, como eu ia preferir que fosse porque dói tão menos que quase nada, mas é questão de querer estar bem e fazer o bem e sei que isso soa retardado em níveis gigantescos, mas é verdade. 
Odeio ter a mania grosseira de ver todas as fotos que você curte e a página de todas que te curtem. Odeio que isso solta uma dorzinha no meu peito como se eu fosse a pessoa mais feia já nascida, odeio tudo que sinto e faço em relação a esse tipo de coisa porque você não é meu e mesmo que fosse, mesmo que fosse um cachorro (quadrúpede) que fosse obrigado a morar dentro do meu apartamento e sair só e exclusivamente comigo, eu não teria esse direito. E eu nem quero um dia ter esse tipo de direito. 
E se você for embora agora, vou ficar com aquele ódio absurdo e normal (normal?) que sentem os abandonados, vou passar pelas cinco fases de luto e depois, lá na frente, vou te achar um cara incrível para sempre, então, apesar de horrível, a melhor hora de alguém ir embora é enquanto ela não fez nenhum estrago escandaloso. 
Eu não quero que você vá embora, não sei se isso ficou claro. 
Jamais quero, também, que você chegue a ler esse tipo de coisa que me presto a escrever porque morro de vergonha. Estou apaixonada por você e há 69 dias acordo, todos os dias, pensando em você e, sim, parece que tenho 12 anos e isso nunca aconteceu antes, mas, sim, sou mais velha que você 16 meses. Olha, sei lá, não tenho como saber se o seu adeus vai ser daqueles que a pessoa vai sumindo de leve e quando a gente nota já foi faz tempo ou se você vai chegar e dizer "olha, mulher, cabou, não tô mais no clima" ou "achei outra e ela é tão melhor que até você ia desejar" ou "o problema não é você, sou eu" ou "você é muito fria" (apesar de eu ser tão quente que me queimo toda noite antes de dormir) ou "Deus te abençoe" ou "deixa de ser maluca, não vou te deixar, casa comigo", não sei, (in)felizmente não tenho como saber, então só quero ficar saudável e não distribuir toxicidade, juro por tudo que existe que desejo mais isso do que propriamente nós dois juntos.


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