Suspenses noturnos

Você diz que minhas características são esquisitas quando em outras pessoas. Diz que eu precisaria de proteção se eu não fosse eu. Aparece com essa cara sem sorriso, essa postura de agressão sentimental e esse par de olhos de céu de abismo e espera pacientemente, sem a menor paciência, eu procurar a chave da porta da rua e também a minha. Nunca acho a minha para deixar você testar a fechadura. E você finge que não liga. Ou apenas não liga mesmo. 
Você sempre inventa mil desculpas para aquilo que nunca te culpei. Dilacera meu juízo em dois segundos e depois finge que jamais o tocou. Ou apenas não sabe que o fez mesmo. 
Você rosna como o bicho mais selvagem dessa selva de nós dois porque sabe que o meu silêncio é muito mais ameaçador. Ou apenas não liga mesmo... E rosna por rosnar. E me protege apenas por proteger. E é maior apenas por ser. E diz que finalmente poderei dormir e descansar porque dessa vez eu não precisarei ser a alfa da relação. E eu tô exausta de ser. E preciso sair desses plantões. 
Aí você erra meu nome e diz que foi de propósito, aí erra novamente em seguida só para tentar me derrubar. E derruba rápido. Aí quando durmo e te esqueço, você pula em mim como um cachorro que passou o final de semana sozinho sem o dono. E não entendo esse jogo que você insiste em jogar sozinho. Pergunto à minha alma se ela terá coragem de pular no precipício chamado você, mas sei que esse tipo de coisa não se responde, apenas se pula. 
 Aí quando você está indo, diz "bora" e eu sei que não me cabe nesse chamado, e a gente sabe, juntos mesmo, que você está chamando só a si. Com medo de ficar. Ou apenas por saber que não cabe. Que apesar de tudo indicar que sou menor, jamais serei.
 E volto aos plantões de mim mesma. Numa eterna dança de egoísmo e posse.


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