Mentiras de verdade

Quando embelezo a sua violência mental, sinto que quem deveria receber um carimbo de perigo era eu. Deveriam me entregar um diploma de transtornos não por todo o um milhão de coisas justificáveis, mas por você em meu processamento. 
Eu deveria ser isolada das pessoas não por todos os danos que já as causei, mas por sua causa. 
Por sua causa tenho me sentido inapta a viver no universo. Não por sofrer, mas por me sentir bem pela sua existência. E você existe? Nem sei, você não me deixa saber. 
Alguém deveria me trancar em marte não por nenhum pecado individual ou conjunto, mas apenas por pensar em você. Tenho a sensação que nunca antes um precipício fora tão alto e o chão lá embaixo jamais tão lacerante. Sinto que de todas as ameaças humanas às quais fui submetida, o seu sorriso é nada para elas. Você pode sorrir de todos os meus desfechos que deram errados (todos?), pode rir de todas as noites que chorei por estranhos ou conhecidos, pode fazer piadas com os quilos que perdi pelo gato ou cachorro que adotei em temporada x ou y porque isso sempre será cômico quando ao lado da sua agressão. 
Você  vai me partir, sim, de algum jeito. Observe. Observemos. E também vai rir com esse som assustador quando isso acontecer.  
Eu sei, você não é um filme, mas estou em horas de me permitir pensar. Eu sei, não devo ser menor em conjunto porque não há formas disso dar certo, segundo o histórico. Eu sei, também, que tudo me indica a saída de urgência e que não estou querendo olhar, eu deveria sair pela porta que ainda nem entrei só porque tudo aponta. Mas quando você dá uma de mim, quando você manda eu me fixar no que estou falando ou ouvindo, não sei se derreto pela sua força e posicionamento natural ou por me ver em você. Não sei bem porque veja: a gente não tem nada a ver.
Acho que você tem um problema mental severo, e talvez sua voz se arraste grosseiramente porque você é doente mesmo; que você exagera nos intervalos para pensar em mentiras pesadas que me distanciem da minha distância universal e me coloque aí, bem aí, no centro da sua mesa. 
Vamos, pois, pensar nos dois copos que você pensa. Nas suas verdades de mentira ou nas suas mentiras que nunca foram mentidas e alguma hora eu irei saber e, alguma noite futura, preferir que você tivesse mentido mesmo. Vamos encarar em mente esses dois copos pensados e visualizar a rota que você abriu sem sequer sair do meio para eu passar. Vamos pensar na melhor forma de produzir esse acidente. Vamos ser plateia de mim mesma. Vamos assistir eu amando me acidentar.


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