Glicina

A dor de saber que não vai mais doer, apesar de acionar GABAa e GABAb, também é feroz. Dói entender que quanto mais evoluo em cima de mim, mais me distancio do que é bonito do lado contrário à janela que resolvi morar. Estabeleço uma conexão detalhadamente programada para semi-permeabilizar. Você não é tudo isso, eis o que tem na parede da minha casa mental. Tinha. Apesar de ainda ter, confundiu-se com a parede e não mais parece algo no plano, mas o próprio plano também. Adeus. Perdão. Obrigada. Também te perdoo. Sussurro o medo de te deixar no lixo pelo interesse que possuo pela sua alma. Mas sua alma também é deveras danificada e não enxergo isso tão de perto. E tão perto corrompi, sim, minha visão. Não sei o que você é verdadeiramente. O que sei, inventei. Triste. Angustiante. Útil para aceitar que seu lugar não pode ser além do lixo. Do lado de cá da janela tem alguém que grita comigo na mais alta sonoridade possível aos ouvidos. Não fico surda e não sei por quê. Não há voz material porque vem de boca não humana. Vem da boca que escolhi beijar para sempre porque não é boca. Vem da essência gigante do que escolhi aceitar que me machuque sem reclamar. Da única existência que permito ser maior que eu. Eu amo. Eu me apaixono a cada segundo. Deixei me arrebatar. E tô um pó. Estou prestes a colapsar. Muito espaço foi ocupado. Quase nada tem sobrado. O que sobra é agonia. E tem doído. E tá doendo.


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