Landfill

Vou esquecer seu hálito e esquecer como eu me sentia ao senti-lo. Você vai se transformar em mais um nome na longa lista de pessoas que não deu certo. Na longa lista que você brincou, um dia, ter que encarar. Eu não vou esquecer a intensidade do meu mal estar, nem de todas as manhãs que meu TGI acordava torcido, mas vou esquecer todos os motivos que me faziam insistir em esperar você abrir qualquer porta de qualquer quarto, sala ou laboratório em que eu estivesse, mesmo sabendo que você não ia abrir. Vou esquecer o porquê de ter usado tanta sinceridade, de ter me doado tanto. Vou esquecer toda a idealização que te entrego na minha cena mental onde você é o ator principal e eu figurante. Alguma hora, você não vai ser nem da plateia. Algum dia, vou acordar e não encontrar metade de um motivo para te dar cinco minutos de atenção porque, algum dia, você vai precisar de cinco minutos da minha atenção e provavelmente vai lembrar que, antes, que no caso ainda é hoje, eu estava disposta a te dar cinco horas, cinco dias, cinco meses, cinco anos ininterruptos de atenção. E você vai ser só mais um nome. E mais um conjunto de interrogações perdido no passado. E mais qualquer coisa que veio e que foi. E isso me dói. E isso deveria doer no mundo inteiro, mas a dor é condensada do mundo todo e cai apenas nos meus ombros para que doa, doa, doa até que pare alguma hora. Qualquer hora de algum dia.


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