Frênico

Queria ter medo do que suas mãos podem fazer comigo, mas a gente não pode temer algo conhecido. E eu conheço o que suas mãos podem fazer comigo porque é o que elas estão fazendo agora, foi o que elas fizeram há dez dias e também mês passado e, também, mês retrasado. Você pega meu ego e esmaga com força entre as falanges e os metacarpos. É por querer? Parece. E tomara. Porque se for sem querer, imagino que eu não tenha um pingo de importância aí em seu mundo. 
Você me mandou embora dizendo com a boca que não queria ir embora e nem queria que eu fosse, mas dizia com os olhos e com as ações que não me suportava mais. E eu tentei ir? Sei lá, fiquei quietinha. E você veio me buscar, de novo, dizendo que queria, mas mostrando outras coisas. E eu fiz alguma coisa? Nem entendi. E você continua dizendo todos os dias. E tenho tentado ficar apenas quieta. Apenas.
Relacionamento, por aqui, para dar certo, tem que me dar espaço, tem que me deixar na dúvida doida de que não sou cem por cento amada, tem que me dar o gostinho do medo do abandono, tem que me magoar um pouquinho para sentir que vale a pena, que tenho pelo que buscar por ainda não ter tudo. Odeio quando alguém chega aqui e me entrega o total porque parece que não há mais nada a fazer, parece que não há necessidade de ir além porque tudo está em minha frente. Isso é um erro mental meu, talvez. Ou talvez todo mundo seja bem assim. 
Mas você? Eu não tenho pequenas dúvidas. Não tenho pequenos medos. Tenho quase certezas absolutas de que não sou o que você quer. Tipo de ontem para hoje quando você gerou um surto mental de indiferença e quebrou minha T1. E eu faço o que? Só posso ficar quietinha esperando o milagre da sua inconstância fazer você bater em minha porta. Você bateu de novo em minha porta semana passada, como no nosso começo, sem que eu quisesse, ok, semana passada eu até queria, como eu muito queria! Mas eu estava tentando adaptar e aceitar a ideia de que você não me queria. E se era isso que você queria não seria mais decente não bater na porta? E te falei tudo isso te olhando e ainda assim você brincou e chorou? Você pensa que isso é um teatro? Não é. Ok, talvez seja. Parabéns, você protagoniza bem mais que eu. 
Infelizmente, você tem o mais completo manual de como me amarrar. E nem posso fazer mais nada, apenas ficar quieta e quieta e mais quieta porque eu já sou tão evidente e você sabe tanto tudo que eu sinto. Não entendi porque chorou, não entendi nada. Não é possível te entender. Eu deveria ir embora porque eu sei que você vai me quebrar, mas você já me quebrou. E mais de uma vez. Por que eu deveria ir embora, então? E por que você não, simplesmente, de uma vez, vai embora logo?

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