Erro de ofício

A gente não tem para onde ir. Já fiz tudo que podia desde palavras, ações, cabimentos até lágrimas. Todas as lágrimas que eu deveria e poderia derramar já caíram. Mas continuo fazendo e continuo chorando por, basicamente, ter uma vontade imensa de te entregar tudo que você me dá sem o menor esforço, em dois minutos, no meio do tempo, quando você sorri ou quando me mata de rir nervosamente. É tão fácil perder o controle com você. O controle da risada e o controle de tentar ser, apenas sou e apenas fico rindo. Sendo de verdade. Rindo de verdade. 
Eu não tenho para onde ir em seu mundo porque não me cabe nele. Eu sou alguém sem fim de tanto peso, não dá para suportar. A culpa não é sua nem de todos os outros que não conseguiram sustentar a leveza do meu insuportável peso. Nem é minha também. Já apaguei o texto umas três vezes porque eu não quero escrever, sinto que tem muito para vomitar, mas sinto que tudo é repetido, que tudo, por mim, já foi dito. Eu te disse com todas as letras, eu fiz todas as ações e mímicas, eu gritei no seu ouvido, mas você faz uma dança de que não é bem assim, mas eu sei que você sabe que é exatamente assim. 
Queria que a gente desse certo, mas a gente deu errado antes de começar e penso, com minhas esperanças macabras, que talvez a gente esteja no caminho certo mesmo, que foi ao contrário para dar certo no final. Mas a gente nunca começa e quando acho que estamos indo tudo desmonta de novo. E eu amo essa novela que me maltrata porque eu tenho uma doença que me deixa apaixonada por tudo que pisoteia meu juízo. E você mastiga meu juízo. E cospe. E brinca. 
E eu tenho tanto medo que você se apaixone por alguém e passe na minha frente com esse novo alguém. Eu tenho tanto medo de que você vá embora que todo dia eu vou embora. Todo dia eu faço um monte de coisa errada só para não ficar tão triste se você fizer uma. Só para não me sentir tão otária, mas eu me sinto cada dia mais e mais e mais otária. Sinto que sou bem besta para você, bem bestinha mesmo e eu nunca estive desse lado porque todo mundo sempre foi bem claro e bem derrubado por aqui e se me queria, me queria mesmo e eu sabia mesmo. Mas de você eu nunca sei nada, não consigo ver nada, sentir nada.
Você nem ia querer saber todo o mundo que eu fantasio só para me proteger do seu abandono. Mas você nem está aqui, não tem como me abandonar, não sei qual é a minha além do medo e não aguento mais ser tão medrosa e queria que você segurasse meus braços e me jogasse na frente de um caminhão só para eu ter tanto medo de você que isso se anulasse de uma vez por todas. A maioria das coisas, quando chegam no limite, acabam. E meu medo, penso eu, se enquadra nessa. 
Não aguento tantas brigas contigo, mas adoro todas elas porque, nessas horas, parece que você se importa e isso é horrível e decadente de se dizer e se você descobre isso vai me odiar um pouco mais, mas se você me odeia mesmo então fico feliz porque a gente só odeia alguma coisa importante.
Quando a gente não se fala, quando você não fala comigo, fica tudo ruim e sem graça. E acho que você vai embora por essa minha mania absurda de brigar demais, de me importar demais, de surtar demais. Mas acho sempre mais que você só vai embora porque nunca quis estar e fico toda confusa porque se você apenas não quer estar por que está? A gente não tem para onde ir e rezo, para nem eu mesma ouvir, que seja exatamente por isso que a gente vai acabar indo para algum lugar.

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