Enlaçando a orofaringe

Existe um buraco em minha mente que se recusa a ser preenchido. O acúmulo de atividades exaustivas é a única coisa que me deixa forte o suficiente para não ficar navegando sem rumo nesse buraco vazio e sem fundo, não como um opção de, por ser forte, não entrar, mas do cansaço ter a força de jogar em meu corpo um peso suficientemente grande para não me deixar ser sugada. 
Não posso, simplesmente, encarar uma semana com a aceitação de viver apenas para respirar, como quando pessoas normais deitam por um mês inteiro para encarar o mar. Momentos de discussão e análise com minha própria cabeça é a porta de entrada para este buraco, é ter a sensação horrorosa de que ele não vai me deixar sair nunca mais, mesmo que eu sempre tenha saído e mesmo que, provavelmente, sempre sairei. 
Costumo me procurar nas outras pessoas porque pareço ter uma síndrome de querer casar comigo a pulso, mas precisar de outro corpo. Isso soa tão egoísta que se desfaz. Jamais tive um tipo determinado de pessoas e nunca vi alguém com um leque tão diferentemente macabro de opções, todo mundo foi tão diferente até hoje que me assusta que eu já tenha visto todos os tipos de pessoas que existem no mundo e nenhuma sirva. 
E me assusta mais ainda saber que, na maioria das manhãs em que acordo é com a certeza de que eu teria um intenso relacionamento comigo (para saber se alguém mais teria), porque me dá a sensação de que eu me aceito tanto que não aceito mais ninguém; me assusta pensar que, apesar de já ter chorado em tantos relacionamentos beira de esquina e até naquele um ou dois que foram (um e meio, ok?) de verdade, eu sempre estraguei todos porque simplesmente não aguentei lidar. 
Eu sei, vai ter quem diga "Perdeu a memória, mulher? Você já foi deixada!". Fui. Mas eu cansei antes em todos. Em todos. Em. Todos. E é óbvio que eu chorei depois porque mesmo tendo deixado de amar (amar?) antes, é horrível ver quando isso acaba nos outros (por você). 
Apesar de saber que eu sempre cansei e que dá para analisar eventos futuros baseando-se em passados, eu tenho um medo gigantesco de pensar em alguém para sempre, de doer para sempre, de me sentir infantil para sempre, de que seus olhos me ceguem para sempre não me deixando visualizar os olhos de mais ninguém, nem as luzes por onde ando, nem os meus próprios olhos. 
Apesar de saber que eu nunca levo ninguém adiante, eu não consigo simplesmente vomitar esse medo. 
Fico tentando fugir e me esconder, mesmo sabendo que ninguém está correndo atrás, mesmo sabendo que ninguém vai procurar. Ninguém registrado com o alguém específico, é claro, você.
Fico questionando e brigando com o universo o porquê de as pessoas simplesmente não pararem de ter tipos de pessoas e não pararem com essa loucura de limitar o que pode ou não acontecer baseado na tipagem de um ser humano. 
E eu nunca questionei isso pensando que eu seria a tipagem não escolhida. 
Isso soa tão horrível que me enoja quem inventou esse tipo de coisa e me enoja mais ainda que eu compreenda quem segue esse tipo de coisa porque talvez, e só talvez, não tenha sido algo, realmente, estabelecido e que, verdadeiramente, cada um tenha um tipo.  Na verdade, a maioria das pessoas que conheço, tem um. E eu não tenho nenhum porque, provavelmente, meu tipo sou eu e, precisando de um corpo alheio, há descaracterização de tipagem, não que qualquer coisa sirva, mas sempre parto para outras coisas, e eu queria dizer que é o sistema nervoso, mas já me relacionei com tanta gente burra que dói. E me sinto, sim, mal por dizer esse tipo de coisa porque, nos devidos tempos de cada um, eles eram inteligentes de alguma forma porque, se não, burra seria eu de me envolver com pessoas estúpidas, não é?
Engraçado que eu escrevo texto para qualquer cachorro que passa na rua e eu estava pensando, sabe? Eu estava, por incrível que pareça. Que era hora de parar com isso, qual é a doença que eu tenho de importar todo mundo em minha alma? Queria parar, mas de forma horrorosa, essas coisas não saem de mim em conversas com as melhores pessoas do mundo, só consigo tirar o peso, ou chegar o mais próximo disso, quando faço esse tipo de coisa, esse tipo de texto, esse tipo de morte, o que, por um lado, é bom, mas por outro... Fracasso da humanidade.
Ontem eu tentei escrever sobre isso de verdade (tentei outras vezes de mentira) e, não conseguindo, me doeu com a loucura de que ou tem alguma coisa profundamente perturbada em minha mente ou tudo está certo e eu fiquei louca de vez, se é que faz sentido. 
Queria que tudo agora fosse apenas normal, mas não sei mais me comportar e eu nem pedi para vir parar aqui, e o pior é isso: como se eu tivesse sido atropelada, mas não naqueles acidentes em que o carro te deixa no chão e, sim, quando o carro te empurra pela barriga até um local que você jamais viu ou ouviu falar e a única coisa que tem nesse lugar é o carro. Como eu vou voltar para casa se não for nele? Ao mesmo tempo, como posso entrar dentro de um carro que me atropelou?
Uma amiga me diz toda hora que não entende o que eu estou fazendo e eu só repito o que ela diz porque eu também não entendo. Pensamos que talvez eu seja daquelas pessoas obcecadas e porque eu seja impossível nesse caso, caso-você, eu quero ser possível porque eu nunca desisti de nenhuma coisa, mas eis o problema: pessoas não são apenas coisas e eu pareço estar esquecendo disso, eu posso muito bem passar o resto da vida correndo atrás de agarrar todas as coisas que eu quiser (e ninguém nem duvida mais que eu vá (porque eu vou)), mas não posso fingir que você é uma coisa e fingir que eu sou possível para quem eu quiser, no caso, você, porque não é assim que a banda toca e eu nem faço parte da banda. 


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