CaCO3

Sinto as chamas de uma inquietude em mim de um fogo que nunca será apagado. Penso que apesar de achar que nasci para me encapsular numa bolinha de aço e sair bolando cada vez mais distante de tudo e todos, conhecendo gente só para ter o prazer de desconhecer em seguida, nem sempre é fácil seguir esse caminho pisando em ovos porque as vezes alguém pisa no meu calo, ou no meu próprio pé. Às vezes, tenho falanges arrancadas e, apesar da dor, nunca me deixo perder e aí vou atrás, mesmo multiplicando a agonia. Quando é preciso deixar alguém intacto depois de enfiar a pessoa por vários quilômetros na minha estradinha de carbonato de cálcio e albumina é uma tarefa intensamente difícil. Apesar da gigante fera e conjunto de espinhos que sou, consisto num poço de bons sentimentos porque, antes de qualquer coisa, me amo demais e esse amar demais expira por todos os meus poros liberando amor para quem quer que chegue e apesar de, muitas vezes, eu mesma não amar quem cheira esse amor, algo de bom, geralmente, vem dos braços alheios. Mas, às vezes, eu amo. Às vezes, eu cuido. Tem vezes, porém, que minha fera se solta e eu tento, quase que inutilmente, proteger as pessoas de mim mesma, mas é difícil oferecer proteção entre mordidas e é aí que eu me perco, em meio a todo o amor que sinto e exalo, não faço a menor ideia do que sinto ou do que mais posso oferecer por ser um gigante labirinto em que as duas saídas, que sequer existem, são compostas das maiores oposições que a humanidade pode sentir. Sempre digo que vou ficar sozinha eternamente porque além de querer, além de sentir isso, por mais cinematográfico, ridículo e triste de admitir eu sempre serei pesada demais para que qualquer pessoa consiga me carregar, principalmente porque, inconscientemente, eu não consigo me deixar carregar.


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