O êxito tem vários pais

Queria abrir bem a minha mão e arrastá-la no ar até que seu rosto estacionasse-a abruptamente. 
Queria bater com força em sua cara e dizer que fiquei bem, que minha doença deu certo, que, na verdade, nunca estarei curada, mas que achei o ponto onde descansar minha cabeça e apesar de não estar ainda tão à vontade para ficar cem por cento bem mesmo que por algumas hora, já achei. Achei o tratamento certo. Daqueles tratamentos crônicos. 
Porque minha leveza de insanidade é crônica. 
Mas você está longe temporalmente de minha mão. Não estamos distante espacialmente, apesar de estarmos. 
A única coisa que distancia as pessoas é o tempo. O espaço não tem quase nada a ver. 
E você ficou tão longe, ficou tão lá atrás. 
Ou será que lá na frente? 
Ia pedir desculpas por dançar minha doença por tantas ruas e jogar o peso dela em tantas costas apenas para que a sentissem, já que eu sempre carregava ela de volta em seguida. Ia me desculpar, ou tentar, mas citar o orgulho de nunca ter deixado minha loucura em uma beira de esquina. Graças às forças enviadas do céu, pude carregá-la até a mesa fria de mármore onde, com dissecação, ganhei a possibilidade de achar o epicentro e ditar uma enciclopédia sobre ela.
Sempre relaciono você a um emaranhado de situações problemáticas. Tanto minhas quanto suas. Isoladas de acordo com os respectivos passados e presentes individuais, mas andando de mãos dadas, como se os problemas do mundo tivessem atração elétrica. 
Às vezes, dá vontade de marcar um café mesmo sabendo, ou não sabendo, que você não toma café e perguntar tudo que não entendi e dizer tudo que nunca expliquei, mas o problema é que eu nem te conheço. Sempre pensei que eu fosse a única desconhecida, mas nunca te conheci na vida. Que pena e que sorte.




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