Comburente

Agora é diferente porque não peço por uma rota de fuga ou uma porta futura de emergência. Não tenho a intenção de ficar no meio do fogo para depois ser salva deixando o fogo e a casa para trás porque parte de mim ficaria lá. E esse conceito de salvação não consta em meus desejos. A necessidade de estar nesse fogo que não vai me matar é aguentar toda combustão até que ela vire cinza, porque eu quero o pó para construir. 
Antigamente, por motivos fracos (que, entretanto, tinham suas determinadas forças em seus tempos), eu também não queria sair, mas aqueles locais não eram meus, portanto, não sendo salva, posteriormente eu seria expulsa. 
Infelizmente, hoje, no meio de alguma rua, notei que se eu jogar meus monstros em outro espelho, não vai dá para aguentar. Não posso criar um pesadelo dentro de casa e nem nos finais de semana salvadores. Então o drama tem que ficar onde está e eu preciso segurar em sua mão até alguma data que não sei qual. É infeliz, é, mas não quero ter outra opção. 
Vejo o teto do mundo desabar e me pergunto porque é tão normal para todo mundo que não doa. Depois chegam sinais brilhantes, como as supernovas da TV a cabo, de que vai dar certo, de que o incêndio, alguma hora, vai mudar de endereço e que meus problemas serão outros. 
Eu vou aguentar porque eu quero aguentar. 
Qualquer coisa vale a pena se você encarar toda frustração e todos os tombos do meio do caminho com a mesma disposição que guarda no coração para o encontro com o objetivo. Então eu estou aqui para aguentar todas as futuras vezes em que eu achar que não vou aguentar. 
Mas agora eu quero guardar tudo isso dentro de uma caixinha abstrata por alguns dias. Porque não dá para segurar o mundo sem respirar. 
E eu quero segurar. 
Mas preciso de fôlego. 
E estou indo tomar.


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