Nenhuma outra cor a menos

A pele rasgada dói quando abre e dói para fechar, mas não há dor em lembrar das células que escorreram pelo ralo porque é irracional sentir falta daquilo que não presencia uma ausência. A gente sempre dá um jeito de aparecer onde dá saudade. Não existe nenhuma forma, atualmente, de eu preferir meu passado a estar onde estou. Porque hoje eu sou o melhor que nunca pude, antes, ser.
A melhor forma de evitar apanhar da vida é não evitar. Você gasta menos energia não evitando e aguenta com mais força, assim dói menos. 
Por dias, minhas estriadas cardíacas quase rompiam pensando nesse ou naquele (que hoje é qualquer coisa como poeira). Por outros dias, as músicas só faziam sentido para outros casais porque eu não conseguia gostar de ninguém. Mas hoje, a cada segundo que meu amor por você aumenta, aumenta por mim também. Eu me amo por te amar, não só por isso, mas por isso também.
Amo o dia em que vi sua foto pela primeira vez. Que é de um time de futebol. Seu time de futebol. E por mais que eu não saiba nada sobre isso além de que existe uma bola e jogadores, eu amo aquela foto e você dentro dela. E me passando seu número. E me garantindo falar no dia seguinte. E no seguinte. E em todos os outros até hoje. E quando você, pela primeira vez que apareceu em minha frente, estava de nenhuma outra cor mais, de nenhuma outra cor menos que cinza. E de quando perguntou se eu podia perder um pouco a atenção no filme. E de quando quis me ver de novo e de novo e até ontem quis também. 
E do seu cheiro amadeirado. E do de ontem que era cítrico (mas que você diz que não). Diz que não sobre o de "café" também porque "café não tem cheiro de madeira". E quando quer me levar ao pé da letra porque eu levo tudo neste pé. E quando dorme e me deixa falando sozinha. Ou quando ficou horas sem falar comigo por orgulho de até hoje não sei de quê. E seu cabelo liso. E o cabelo do seu filho (que segundo você será lisíssimo). 
E de você viver "só com o almoço" e de demorar bem mais que eu para aparecer quando vamos sair. E de acreditar em mim quando nem existe mais crença por aqui.
E da cartinha dentro de Senhor dos Anéis e de novo do dia que te vi com uma blusa de futebol. E do que eu ainda não sei. E de me ensinar sem nenhuma aula que eu não preciso evitar nada, nem pensar em você antes de dormir, nem quando acordar, nem de não pensar, nem evitar de te amar. Então eu amo, amo e amo. E amo mais. Amaria até se não me amasse. Amaria até se me odiasse. E amaria até explodir se possível fosse.


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