Oito graus

Pensei que a curva do meu gráfico de tristeza, que se baseia na quantidade do que escrevo mensalmente, ia apenas descer sem freios no final do ano. E novembro, deu sucesso. Dois textos em trinta dias. Mas dezembro, não. Porque dezembro, além de ser dezembro, vem puxando janeiro. 
E eu estou escrevendo, talvez, para tentar esvaziar o que já dói, para, quem sabe, quando essa dor de final-barra-começo de ano chegar, doer menos. 
Lembro que, na primeira vez que o ano virou sem minha vó no mesmo planeta que eu, eu estava dormindo. Melhor, fingindo estar. E eu tinha treze anos. Treze anos como alguém que tem oito. Porque ser criado por avó é um mimo. São cem mimos. E, na vez anterior a essa, eu estava olhando o Rio de Janeiro explodir. Não estava em Copacabana. Nem mesmo no Rio de Janeiro (cidade). Estava em Teresópolis. E estava acima do Rio. Os fogos explodiam lá embaixo. Muito melhor que Copacabana. Eu vendo, lá embaixo, daquele tanto de gente que junta dinheiro por dez anos para a virada de um. Na verdade, eu só via os fogos. E provavelmente nem imaginei alguém gastando dinheiro para a virada de um ano. Porque eu tinha doze anos. E não gostava de pensar em dinheiro. Hoje, eu detesto. E estava terrivelmente bom de frio. Eu estava de tomara que caia. Termômetros urbanos marcavam doze graus. E acabava 2006.
Quando o ano seguinte virava, acima de mim, no céu, estava minha avó. E eu numa cama, sem querer ver ninguém. Mas só disse que queria dormir. Porque mesmo tendo apenas oito (treze) anos, eu não queria vender ou expor a minha dor. 
E o ano foi bom. Talvez por nada mais conseguir me impressionar a ponto de eu nomear como ruim. Ou talvez tenha sido apenas bom. Ou vai ver foi por eu passar "dormindo". E eu queria de novo. Mas atualmente falar que quero dormir enquanto o ano vira vai soar como exposição ou venda de dor porque agora é diferente, já que eu tenho oito (vinte) anos.

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