O que sempre ficou...

Algumas coisas simples e facilmente desaparecem. Umas, como se nunca tivessem existido. Outras, ainda deixam uma sombrinha, um pingo da tinta da cor que tinha, um fio de teia de aranha congelado que não há fogo que derreta. Outras, levam a alma e querem dançar apenas com o corpo. Não posso segurar na sua mão nessa dança quando decidimos, antes, levar o lixo para fora e, junto dele, sua alma. A gente (no caso, eu) tenta, mas não dá para dançar com quem já morreu. Não em vida. 
Outras coisas se instalam pelas esquinas internas do corpo como um câncer tímido, que não fala, que morre de medo de matar, mas que pelo maior esforço que faça, não consegue não se fazer sentir. A gente (no caso, eu) fecha o olho e se deixa queimar sensitivamente, sem entender que dorzinha beira de estrada é essa ou se é por estar tão feliz que chega a arder. A gente (eu) sabe que em maior parte é por ser fim de ano e de novo não ter conseguido. Mas, por outro lado, consigo sentir aproximadamente quantos centímetros ou quilômetros consegui crescer, quantos nãos foram aprendidos, quantos ditos, quantos sims/sins/the sims e quantos silêncios também. E é bom.
Quer dizer, não sei se é realmente bom ou se digo ser bom para ser menos ruim. Feliz eu estou por ter encontrado uma das melhores pessoas do universo, e ter precisado apenas de vinte anos de procura. Isso me acalma porque devo ficar feliz também quando achar o resto que quero, já que também demora. Mas eu não sei se essa outra parte eu só invento porque, se for real, se eu for tão feliz, o que é esse brinquedinho cancerígeno que me faz chorar e me faz perder o sono? Não sei. Sei, sim.
Devo estar tão perdida que só posso confiar em meus pés. E agradecer por ter pernas. E uma mão além das minhas. E oxigênio. E metabolismo. 
O que não me abandona é o que me guia. Amém.

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