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Um dia ouvi dizer que alguém só morre de verdade quando a última pessoa a se lembrar desse alguém morre também. Acordar domingo com a notícia de que você já não estava por aqui, para além de doloroso, foi entregar-se a um estado de negação. Não deu para acreditar que quem cresceu comigo, (quer dizer, você, que era tão pequeno como eu, cresceu... e eu, não) agora não irá crescer mais. E ainda não dá. Não dá para entender, às vezes, o que essas linhas tortas da vida significam. Não dá para acreditar que alguém insubstituível e, acima de tudo, bom, não vai poder mais, sequer, sorrir de volta para mim, exceto nas lembranças. Mesmo que tenhamos nos distanciado, a sua participação em nossas vidas foi em um dos momentos mais importantes: nossa infância. Assim, daqui até o último dia em que minha memória existir, você estará presente nela, Jefferson. A gente pensa que seria melhor poder ter te abraçado, se despedido, deixado você ir. Mas isso não iria acontecer, nenhum de nós permitiria que você se fosse para sempre após um abraço. Portanto, Deus sabe o que faz. Ainda assim, me desculpa por não ter te visitado antes e te abraçado enquanto podia. E obrigada por permitir que eu abraçasse, agora, e por sua causa, os que ainda estão aqui. Uma saudade enorme de quando nos víamos todos os dias e rezávamos para a aula acabar. Hoje, a gente reza e lamenta porque elas não podem voltar. De jogar bola, de andar no sol quente e não reclamar, das repetidas histórias de Leozinho de Maureci, da minha bolsa que você jogou na lama e disse que foi Luanda (e eu acreditei), de uma enorme parte da minha vida, que eu nunca poderei arrancar de mim, assim, nunca poderei tirar você também. Antes, estávamos juntos. E antes, bem antes, descíamos na Avenida Maceió, diariamente, após as aulas, sem imaginar, por um segundo, que você iria embora tão cedo. Que Deus cuide de você e que você cuide de cada de um nós agora. Até quando o último de nós estiver vivo, você também estará.


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