Corrosão da inércia

Ontem disseram que o mundo, apesar de "plano", é um ciclo, e por mais que eu já tivesse aceitado isso muito antes de ouvir, é agoniante pensar de tal forma. Acabei de ver minha escritora preferida e viva colocando uma crase horrivelmente errada. Basta saber o que é uma crase para saber que ali não ia caber. E fiquei triste. Asim como sempre fico com as pessoas que jogo lá em cima. Mas nunca como sempre sinto ao me sufocar com o silêncio de quem passa o dia comigo. Porque faz tanto tempo que eu queria passar os dias sem ninguém. E imagino que nunca vou conseguir casar por não conseguir suportar conviver nem com a dona de uma das duas células que me fizeram existir. Depois mudo de ideia porque muito provavelmente eu só casaria se conseguisse ser o que minha senha de e-mail principal significa. E, se assim fosse, conviver seria pouco. E deixaria até saudade. Tipo como hoje. Mas é óbvio que minha tarde não acabaria por uma crase antes de "lápis". Menos ainda pelo tormento que lembro sentir desde que sei ficar de pé. Nem isoladamente pelos prováveis próximos seis meses lamentando uma questão. Ou uma questão e um texto. Ou o que eu ainda nem sei. Ou horrorizada pela gigantesca sorte que me afoga de vez em quando. Ou arrependida por fingir brincar de boneca em uma cena de parto. Ou agradecendo por já ter idade suficiente para me arrepender, sim, no lugar de dizer que não me arrependo de nada. Ou nem lembrando que quem muito se equilibra, às vezes, só precisa respirar. Esquecendo que só tô recuperando o fôlego. Observando inúmeros poços escuros nos quais, no momento, eu não mergulharia. Que por ironia do destino, só caiu quem se afastou das bordas do meu. No entanto, ainda sei gritar de longe como se monta uma escada, isso é o que nos diferencia. O que nos distanciou, no entanto, foram os seus próprios passos. Tem poço que a gente desiste e dá de ombros. Outros que a gente ignora e outros que, apesar de alheios, são nossos. Agora, apesar de perturbada, meu chão é firme e meu céu não é só um círculo. E a luz acende já. Todos nós somos egoístas e o mundo é dividido entre dois tipos de pessoas: os que fingem não ser e os que aceitam ser, no entanto, assumir ter medo não nos deixa mais corajosos.


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