duplo-ista-ego

Às vezes, a falta de ordem das coisas nos leva a calcular o que inventar por não existir o que fazer. Quando nos deparamos com a construção de um muro que nos dividia, tentei te avisar que bater em concreto machuca a mão, você preferiu fingir que era uma cortina de algodão. Quebrou os ossos e, como grande parte da minha população, mirou a culpa em mim, como se o muro fosse eu, como se eu não fosse a outra parte da história que sente, que anda, que fala. 
Sente pouco, anda distante e quase não fala. 
Mas fui. 
E sou. 
Óbvio que sinto sua falta, mas não sei construir aviões. Óbvio que você é importante, mas nada disso existiria se eu deixasse você ser (para mim) mais do que eu. E se isso não existisse, você seria um completo estranho. A justificativa de uma porção de ideias cortantes (outras construtivas) é dada por um egoísmo meu ao qual você sempre aplaudiu. 
O seu é feito a lápis. 
E a gente vê (via) ele sendo apagado todos os dias. 
Duvido que você leia as coisas por aqui porque quase nunca te cito. E se estiver lendo isso agora, duvido (novamente) que saiba ser para você. Quando eu estava abaixo do nível do mar, você mergulhou por mim. O que sinto não é apenas gratidão. Sinto uma pancada na boca do estômago quando vejo que eu mesma coloquei um tijolo no muro. 
Mesmo que só um. 
Sinto sua falta como algo substancialmente tocável, mas não posso te dizer nem em sonho ou pensamento, por isso digo em texto... Por saber que, mesmo que chegue a ler, não vai saber que o você é você.

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