Centrífuga

Não sei se cresci ou passei a usar salto alto.
Ou ambos.
Ou se estou dormindo, sonhando que finalmente acordei de um pesadelo. Ou se o pesadelo era real e eu finalmente dormi.
Ou se foi tudo um lapso memorial.
Eu adoro a palavra lapso. Embora os erros que eu cometo sem perceber são, quase todos, nas questões que eu leio rapidamente.
Mas, vai ver, faço isso com a vida: leio-a apressadamente.
E deixo escorrer rápido pelos dedos.
Como água.
Do jeito que um dia, há muito tempo, me disseram que não deixariam que isso fosse eu. Que eu fosse a água. Que eu, como uma gota, antes de cair no chão, sofresse calefação. Mas deixaram. E antes de cair, desapareci. E lógico que doeu. E de novo. E mil vezes.
Ou duas, numa soma real.
Mas eu não posso culpar os outros por me transformar em um pingo de água. Só me transformo naquilo que assino embaixo antes. Se não por Darwin, pelo menos espiritualmente. E eu pareço me repetir todos os dias que ninguém, além de mim, tem culpa de nenhum passo que minhas pernas dão.
E acredito.
E por mais que seja cruel, em várias partes, aceitar isso, como, por exemplo, posso citar exemplos de seres humanos idiotas que quiseram apenas ajuda em uma prova ou um mês de férias cinematográfico. Desculpa se estou sendo grossa chamando as pessoas de idiotas, mas reconheça a minha sensatez em assumir a culpa até do que talvez não precisa ser. Porém, é a única forma que eu tenho de deixar pra trás todo mundo que não me impulsiona pra frente: crescendo de forma centrífuga.
Talvez escrever isso me ajude a lembrar finalmente qual citocinese é de quem porque nunca adiantou lembrar de uma máquina de lavar. Eu simplesmente não sei o significado das palavras e acabou.
Hoje, antes de escrever, lembrei das inúmeras vezes em que esse processo era o único que calava meu choro. E só calava porque me fazia exceder a cota momentânea de lágrimas. Aí passei a associar o processo de escrever a algum tipo de remédio. Que tem um efeito enorme quanto estou doente. Então me assusta escrever quando estou saudável. Porque parece que quero forçar alguma sensação dolorosa. É difícil escrever sobre se sentir bem sem parecer que tem algum tipo de retardo mental. Eu mesma tenho uma enorme dificuldade em ler a felicidade alheia sem encontrar um cheiro de falsidade.
Mas talvez eu esteja começando alguma coisa em mim. É esquisito admitir que eu estive errada em todas as vezes que pensei que "a gente deve ser educado com todo mundo", não no sentido de ser. Porque educação é inerente.
Ou você tem, ou não.
Mas no sentido de interpretar a palavra. Ser educada não significa que eu quero todo mundo em minha vida. E o todo mundo a qual me refiro é a porção de pessoas que mais me impulsionou a usar salto.
Ou crescer.
Dormir. Acordar. Ainda não sei o quê. Mas, de qualquer forma, as que acenderam as luzes da estrada do finalmente-estou-bem. Essas pessoas, no entanto, só me mostraram a claridade a partir de  uma escuridão perturbadora. A qual eu não tenho motivo nenhum, muito menos educado, para voltar.
Agora, como exemplo, escrevi tudo isso sem um terço de uma lágrima.
O que não significa que o coração não apertou um pouco e nem que um quarto de gota de água salgada não apareceu no globo ocular.
Mas é um começo.
Um começo de alguma coisa.
É, sim. 

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