A eficácia do que se torna inútil

Achei que eu não ia aguentar.
Você também, em alguma hora de algum dia.
Achei que minhas pernas não iriam me segurar quando seus olhos, fazendo os meus de alvo, atirassem flechas. Pensei não conseguir sobreviver ao deitar na cama numa tarde de dia útil e não conseguir dormir pelo interno abismo de flores que me suga.
Apesar de ser feito de flores, não deixa de ser abismo.
 Pareceu que meus músculos não aguentariam mais meio metro. Pareceu ser a hora de sentar e me render à desistência.
Desistir de mim.
Mil vezes calculei o zero que era a saída de emergência. A ausência de uma rota segura. A ausência de uma rota qualquer, mesmo que insegura.
Mas a gente consegue. Você sabe. A gente continua levantando.  Pensar já é conseguir. Dizer que consegue já é uma vitória. A desistência é o ignorar. Fingir que não tem uma vida para se preocupar. Achar que pode substituir problemas por qualquer outro invento urbano que não é problema, mas que assim você vai chamar.
Seus olhos pareceram jogar papeis abertos: planaram no ar.
Dobre-os da próxima.
Para uma próxima que não eu.
Tem dias que estou de pé sem, de fato, estar.
Tem dias que parece que vai dar tudo errado.
E dá.
Mas os dias, assim como as coisas deles, encerram.

Assim como a minha dor muscular, visual, mental... e a que foi sua.


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