Quelação

A gente sempre torce para encontrar a pessoa que nos chutou do sofá e poder dizer "te superei, playboy (playgirl)". Torce antes de o esôfago parar de doer. Torce antes de perder mil noites de sono. Depois que recuperamos o tubo digestivo, as noites de sono e os quilos perdidos, esquecemos do desejo inicial de olhar, lá de cima, quem nos empurrou da cadeira compartilhada.
E o tempo passa.
E as razões desaparecem.
O que nos levou a ficar com determinadas pessoas (in)significantes? Nenhum livro responde.
E, então, do nada, a pessoa que cuspiu no prato que tinha o arroz que você cozinhou, te diz um "olá" com um "quero arroz de novo" por trás e, em meio a todos os planos que você tinha de dizer "olha aqui quem tá em pé, quem pode te olhar de cima, quem pode dizer que jamais repetiria você", tudo que sai é a educação e a oração de "que seja bem feliz para não precisar de alguém que seja eu".
Você podia ter ido adiante. Podia ter sido menos igual-a-qualquer-coisa.
Mas, não, foi tão quanto.
Eu não tenho o menor assunto para continuar um diálogo contigo. Porém, essa noite sonhei com você. E mesmo que eu não tenha a intenção de fazer você saber disso, lembrei que faltava eu te desculpar. Eu te desculpo por me derrubar na hora em que você pediu para segurar sua mão. Desculpo porque, acima de tudo, do lado de cá existe respeito.
E é isso que me faz optar por mim a você. Que faz você se derrubar. Que nos diferencia. Que nos afasta.


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